top of page

Internet

Muito além do inchaço

Caxumba é uma doença aparentemente simples, mas pode provocar esterilidade, surdez e outras enfermidades

Larissa Santos/TS | Ed. 92 Set 2018

Se algum dia você já se deparou com a lateral do rosto inchada sem nenhum motivo aparente, muito provavelmente conhece a caxumba. Também conhecida como papeira ou parotidite, é uma doença provocada pelo vírus Paramyxovirus.

Caxumba é altamente contagiosa, a doença se manifesta principalmente em crianças e adolescentes em idade escolar. Porém, isso não quer dizer que adultos estejam livres, estes apenas têm uma probabilidade menor de contraírem a doença.

A médica infectologista do Centro de Imunização do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), Amanda Nazareth, explica ao portal R7 que: “adultos têm mais chance de estarem protegidos porque é provável que tenham entrado em contato com o vírus de alguma forma ao longo da vida”.

Entretanto, ainda existem possibilidades de contágio e a probabilidade de que a doença se manifeste de forma mais grave em adultos é maior.

O principal sinal de que uma pessoa contraiu caxumba é o aumento das glândulas salivares (que têm a função de produzir saliva), principalmente da parótida, podendo afetar também as sublinguais e as submaxilares.

A inflamação nas glândulas faz com que o rosto inche e fique esteticamente alterado durante o período de manifestação da doença.

Sintomas – Apesar de a inflamação das glândulas ser o sintoma mais comum de caxumba, cerca de 30% das pessoas não apresentam o aumento delas, de acordo com o Ministério da Saúde.

Entretanto, esse não é o único sintoma. Há outros indícios que podem caracterizar a doença, tais como febre, dor de cabeça, muscular e ao mastigar ou engolir, além de calafrios e fraqueza.

Crianças de até cinco anos podem apresentar sintomas relacionados à via respiratória e perda neurossensorial, ou seja, perda auditiva causada por danos ao ouvido.

Adultos merecem atenção redobrada quando o assunto é caxumba. O perigo está presente, principalmente, na fertilidade de homens e mulheres. Elas podem desenvolver mastite (infecção no tecido mamário) e ooforite (inflamação nos ovários). Já neles, de 20% a 30% dos casos, a doença pode causar orquite, que é uma inflamação nos testículos.

O clínico geral Josival Soares, em entrevista à BBC, explica o risco: “se você não tratar, a doença vai se disseminando e pode atacar o testículo do homem e o ovário da mulher. E atacando o testículo, ela pode diluir as células produtoras de espermatozoide e deixar o homem estéreo”.

Em casos mais graves, a doença pode causar surdez, meningite, encefalite (inflamação do cérebro) e pancreatite (inflamação do pâncreas). E, apesar de ser raro, a caxumba também pode levar à morte. As probalidades são de uma a três mortes a cada 100 mil pessoas, segundo o Ministério da Saúde.

Transmissão – Como o ser humano é o único hospedeiro do vírus, não é possível contraí-lo de animais ou plantas. E, mesmo fora do corpo, o vírus tem alta resistência, podendo ser transmitido facilmente de pessoa para pessoa por meio das vias respiratórias.

Portanto, inalar gotículas de espirro ou tosse de pessoas infectadas possibilita o contágio. Falar muito próximo, beijar e até mesmo compartilhar objetos, como copos e talheres, com pessoas infectadas também é possível se transmitir a doença.

O período entre o momento da contaminação e o aparecimento dos primeiros sintomas pode ser de 12 a 25 dias. Em média, os indícios se revelam por volta de 16 a 18 dias após o contágio.

Apesar disso, a transmissão pode ocorrer de sete dias antes de os sintomas aparecerem até nove dias após o surgimento deles. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS), o vírus ainda pode ser encontrado na urina 14 dias depois do início da doença.

Diagnóstico e Tratamento – Quem já teve a doença, raramente a desenvolverá outra vez. Isso porque o nosso organismo desenvolve anticorpos que circulam pelo sangue e combatem o vírus. E é exatamente por causa desses anticorpos que o exame utilizado para diagnóstico é o de sangue.

Os profissionais que podem diagnosticar caxumba são: clínico geral, pediatra e infectologista. É importante estar atento aos sintomas e procurá-los sempre que tiver desconfiança.

Não existe tratamento específico para caxumba, mas algumas atitudes podem fazer com que os sintomas diminuam como a adequação da hidratação e da alimentação, evitando ingerir alimentos ácidos, que podem gerar dor, náuseas e vômitos.

A principal medida receitada pelos médicos é o repouso. Além disso, a observação cuidadosa sobre a evolução ou não dos sintomas também é essencial para evitar o aparecimento de complicações.

Números – Caxumba não é uma doença de notificação compulsória, o que significa que as unidades de saúde não são obrigadas a registrar a quantidade de casos atendidos. Por esse motivo, o Ministério da Saúde não tem dados precisos sobre a incidência dessa enfermidade.

Porém, um levantamento feito pela BBC com as secretarias de saúde dos estados, revela que São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Sergipe e Amazonas registram surtos crescentes da doença desde 2016.

É considerado surto quando existem dois ou mais casos da doença no mesmo local, seja ele uma escola, uma empresa, uma creche etc. Só em São Paulo, em 2017, foram registrados 141 surtos com 739 casos. Em 2016, segundo a Secretaria Estadual de Saúde, o número de casos chegou a ultrapassar os sete mil.

No Rio de Janeiro, em 2015, foram registrados 554 casos em 30 surtos. Em 2017, só a capital registrou 19 surtos.

O Paraná também enfrentou surtos em 2017: foram 17 ocorridos em dez municípios, totalizando 323 casos.

Levando em consideração que a caxumba é uma doença sazonal, ou seja, ocorre periodicamente, é preciso dar a devida importância para a única forma de prevenção: a vacina.

“O que observamos nesses surtos é que muitos dos jovens não foram vacinados adequadamente e isso é um problema. Só uma minoria tinha a vacina correta”, explica a pediatra e presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabela Ballalai.

Vacinar é necessário – A única proteção viável para a caxumba está em uma picada de agulha. A vacina que previne a doença é distribuída na rede pública de saúde em duas doses: a tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) e a tetra viral (sarampo, caxumba, rubéola e catapora).

A tríplice deve ser aplicada em crianças com 12 meses de idade, e a tetra aos 15 meses.

Crianças de 5 a 9 anos que não tomaram a vacina corretamente devem tomar duas doses da tríplice, respeitando o intervalo de, no mínimo, 30 dias entre elas. Assim como as pessoas de 10 a 29 anos que não foram vacinadas ou não têm certeza se foram, devem tomar as mesmas duas doses.

Adultos de 30 a 49 anos podem tomar apenas uma dose e, a partir dos 50, a imunização deve ser avaliada individualmente.

Profissionais de saúde podem, ainda, recomendar uma terceira dose, caso o paciente esteja exposto a um ambiente de surto, mesmo que as outras duas sejam administradas corretamente.

Quem não tem certeza se tomou a vacina, vacinou antes de 12 meses de idade ou recebeu só uma dose, deve se imunizar novamente. “Na dúvida, é melhor vacinar. Além de prevenir a caxumba, não podemos deixar o sarampo e a rubéola, que são doenças mais graves, voltarem”, alerta Isabela.

Até mesmo quem já teve caxumba, apesar de as chances de ter a doença outra vez serem mínimas, deve se vacinar para se proteger das outras doenças.

O Brasil tem enfrentado uma queda na cobertura vacinal, e um dos motivos é a disseminação de notícias falsas (fake news) sobre as vacinas. Para o Ministério da Saúde, “no Brasil há uma desconhecimento individual sobre a importância e os benefícios da vacina”, e essa pode ser uma das causas da queda.

É importante não se deixar levar pelo que ouviu dizer por aí e se conscientizar da importância da vacina. Procure sempre se manter imunizado e evite, assim, surtos de doenças como a caxumba.

 

Vacine-se!

Infográfico Glândulas.png
bottom of page