Quando o futuro bate à porta
O envelhecimento da população é uma realidade mundial, e a OMS recomenda que os países se ajustem às necessidades dos idosos
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Larissa Santos/TS | Ed. 93 Out 2018
Se alguém lhe perguntasse o significado de envelhecer, o que você diria? De certo, teríamos uma variedade de respostas. O envelhecimento tanto pode ser sinônimo de sabedoria para uns como também de perdas para outros.
Há quem diga que o envelhecimento é a melhor idade, e quem diga que o melhor da vida já passou. Tem quem defenda que ainda há muito que se viver, e quem se senta e espera a morte chegar.
Mas a verdade é que, não importa a opinião, envelhecer é inevitável e paradoxo: no mesmo instante em que torcemos para chegar lá, temos medo do que está por vir.
De maneira geral, as pessoas esperam viver muito, mas não sabem lidar com as perdas que a longevidade pode proporcionar, como a da audição, da visão, da autonomia e de entes queridos. Envelhecer é gratificante e complicado ao mesmo tempo.
O fato é que os brasileiros viverão cada vez mais. Conforme a projeção populacional feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de idosos cresce gradativamente todos os anos. Atualmente, 29,3 milhões de brasileiros têm 60 anos ou mais, o que representa 14% da população.
Seguindo essa linha, a previsão para 2050 é de quase 66,3 milhões de idosos. Considerando uma população com quase 233 milhões de brasileiros, o número de pessoas com 60 anos ou mais corresponde a cerca de 30%.
De acordo com o Ministério da Saúde, em 1940, a expectativa de vida era de 45 anos, enquanto que, em 2016, ela aumentou para quase 76 anos. A perspectiva é que mulheres cheguem a uma média de 79 anos e os homens a aproximadamente 72.
Mundialmente falando, quase 700 milhões de pessoas têm mais de 60 anos atualmente. Até 2050, a previsão é que esse número alcance os dois bilhões, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).
Para o representante do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) no Brasil, Jaime Nadal, “é necessário compreender que o envelhecimento é o resultado de avanços significativos no desenvolvimento e nas condições de vida dos países”.
Ele explica que com os idosos cada vez mais ativos os países têm muito a ganhar, principalmente economicamente. Porém, para que isso aconteça é necessário voltar a atenção para essa faixa etária e investir em assistência de qualidade.
Políticas Públicas
Dados do Ministério da Saúde apontam que “o envelhecimento da população brasileira impactou e trouxe mudanças no perfil demográfico e epidemiológico em todo País, produzindo demandas que requerem respostas das políticas sociais envolvendo o Estado e a sociedade”.
Em função disso, o governo federal estabeleceu a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa em 2006, que tem como objetivos: promover um envelhecimento ativo e saudável; prestar atenção integral e integrada; estimular a realização de ações; garantir orçamento; incentivar estudos e pesquisas na área, dentre outros.
Antes disso, em 2003, o Brasil já contava com a Lei nº 10.741, conhecida como Estatuto do Idoso, com 118 artigos que giram em torno da garantia do direito à vida, à liberdade, ao respeito, à dignidade, à alimentação, à saúde e à convivência familiar e comunitária de pessoas com 60 anos ou mais.
Daí em diante, começou-se a pensar em uma série de políticas voltadas para o envelhecimento com qualidade, a exemplo do lançamento do Decreto Presidencial Compromisso Nacional para o Envelhecimento Ativo, em 2013; da publicação das “Diretrizes para o cuidado das pessoas idosas no Sistema único de Saúde (SUS): proposta de Modelo de Atenção Integral”, no mesmo ano, e do fomento a estudos e pesquisas na área.
Porém, foi só em 2018 que o passo mais significativo foi dado. Dez anos após a publicação do “Guia Global: Cidade Amiga do Idoso” pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a fim de se estimular o envelhecimento ativo, o Brasil lançou a “Estratégia Brasil Amigo da Pessoa Idosa”.
O objetivo nada mais é que alcançar o envelhecimento ativo, saudável, cidadão e sustentável para todos os brasileiros, e a tendência é desenvolver Planos de Ação, recomendados pela OMS e voltados à adaptação das cidades às necessidades dos idosos.
Dentre esses ajustes, o combate à violência tem prioridade. Um estudo da revista The Lancet Global Health, apoiado pela OMS, demonstra que um em cada seis idosos sofre algum tipo de abuso no mundo.
A assessora de saúde sênior do Departamento de Envelhecimento e Curso de Vida da OMS, Alana Officer, afirma que “o abuso de pessoas mais velhas está aumentando; para 141 milhões de pessoas idosas em todo o mundo, este tem sérios custos individuais e sociais” e, por isso, “nós devemos fazer muito mais para prevenir e responder à crescente frequência de diferentes formas de abuso”. E é isso o que Brasil tem tentado fazer.
Exemplos a serem seguidos
Um mês depois da implementação da “Estratégia Brasil Amigo da Pessoa Idosa”, quatro cidades brasileiras receberam a Certificação Internacional de Cidade e Comunidades Amigáveis à Pessoa Idosa pelas mãos da OMS. Três delas ficam no Rio Grande do Sul: na capital, Porto Alegre, e em Veranópolis e Esteio. A quarta fica no Paraná: em Pato Branco.
Para fazer parte dessa Rede Global de Cidades Amigas das Pessoas Idosas, antes de qualquer coisa, é essencial que “as autoridades políticas locais firmem um compromisso para desenvolver um plano de ação voltado à adaptação da cidade para as necessidades das pessoas idosas”, explica a coordenadora da Unidade Técnica de Família, Gênero e Curso de Vida da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) no Brasil, Haydee Padilla.
Além disso, para alcançar a certificação a cidade deve atender às recomendações da OMS contidas no Guia Global que giram em torno de oito pontos:
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Espaços ao ar livre e edifícios;
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Transportes;
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Habitação;
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Participação social;
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Respeito e integração social;
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Participação cívica e emprego;
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Comunicação e informação;
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Apoio da comunidade e serviços de saúde.
De acordo com a OMS, esses oito domínios da vida urbana podem influenciar diretamente na saúde e na qualidade de vida dos idosos, e por isso são tão importantes de serem lembrados.
Cuidar é necessário
Batendo na tecla do bem-estar, do envelhecimento ativo e da qualidade de vida da população idosa, a OMS publicou, em 2017, as “Diretrizes sobre Cuidados Integrados para Pessoas Idosas”
(ou Guidelines on Integrated Care for Older People, no idioma original).
A cartilha traz esclarecimentos importantes sobre como oferecer cuidados para pessoas com mais de 60 anos de idade como, por exemplo, os principais elementos que devem estar presentes nesses esforços por parte do Estado e da sociedade. São eles:
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Avaliar o plano de cuidados;
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Traçar os mesmos objetivos com diferentes provedores;
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Alcançar a comunidade e realizar intervenções familiares;
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Proporcionar suporte para autogestão;
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Monitorar os processos;
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Envolver a comunidade e apoiar os cuidadores.
Essa última diretriz, principalmente no que diz respeito ao cuidador, é bem familiar ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1). Apesar de não integrar o Executivo Federal, o órgão estabeleceu esse plano de ação envolvendo o seu quadro de servidores, de prestadores de serviço e de estagiários.
O projeto “Cuidando do Cuidador” é realizado pela Secretaria de Bem-Estar Social (Secbe) e consiste na formação de uma rede de apoio a quem trabalha na instituição e muitas vezes tem dupla jornada, exercendo a função de cuidador, seja do pai, da mãe ou de pessoas idosas próximas.
O “Cuidando do Cuidador” consiste em encontros mensais com temas diversificados em que sempre há um especialista para conversar com os presentes sobre assuntos de interesse do cuidador.
Neste ano, quando foi iniciado o projeto, ocorreram sete encontros. O primeiro teve o objetivo de explicar o projeto e de conhecer mais sobre os participantes. O segundo contou com a presença do geriatra Otávio Castello, que falou sobre o envelhecimento do Brasil e esclareceu dúvidas sobre as doenças mais comuns nos idosos.
Felicidade foi o tema da terceira reunião, que foi mediada pela psicóloga e servidora do TRF1 Daniella Meira. Daí em diante foram discutidos temas como o cuidado com o idoso, o perigo das quedas, os direitos das pessoas idosas e a nutrição, que é tão importante na idade avançada.
Maria Ângela Paes, servidora do Tribunal e coordenadora da iniciativa, explica que os cuidadores de idosos ou de pessoas doentes, muitas vezes, abrem mão de suas próprias vidas para se dedicarem completamente a esse papel e, portanto, “precisam de um suporte para que cuidem de si próprios e então poderem cuidar de outros”.
É muito comum, nesses casos, deixar de cuidar de si próprio para se doar ao outro por uma questão de amor e empatia. Mas, para uma pessoa cuidar de outra é necessário que ela esteja bem consigo mesma, e esse foi o propósito do Tribunal.
A rede de apoio foi criada para fazer com que os cuidadores também fossem cuidados, abrindo espaço para discussões e reflexões e colocando-os como protagonistas em um cenário em que, muitas vezes, eles são apenas coadjuvantes.
Ainda que você não seja um cuidador e não tenha chegado a essa fase da vida, muito provavelmente conhece alguém que se enquadre nessa circunstância.
Pare e reflita sobre as ações do cotidiano que você realiza em prol desse grupo etário. Faça parte dessa luta, porque um dia chegaremos lá, e o nosso desejo é que tudo ocorra da melhor forma possível.
O Ministério da Saúde reúne, em seu portal, uma série de dicas úteis para manter a saúde do idoso, relacionadas a quedas, ao uso e ao armazenamento de medicamentos e à saúde bucal de pessoas idosas.
Abaixo você vê algumas delas:
Como prevenir quedas?
Evite tapetes soltos; coloque corrimão em escadas e corredores de ambos os lados; use tapetes antiderrapantes no banheiro; evite móveis e objetos espalhados pela casa e deixe uma luz acesa à noite.
Como armazenar medicamentos?
Guarde-os em locais frescos e secos, fora do alcance de crianças e animais e longe de perfumes, produtos de limpeza e alimentos; caso a medicação seja guardada na geladeira por orientação médica, não coloque o produto na porta ou próximo ao congelador; os porta-comprimidos devem ter somente o suficiente para 24 horas; mantenha os remédios na embalagem original para controlar a validade e facilitar a identificação.
Como manter a saúde bucal?
Além de usar a escova de dente, utilize também o fio dental, passando-o entre todos os dentes; escove a língua para tirar restos alimentares e bactérias; higienize as próteses dentárias de acordo com o tipo (parcial removível ou total) e esteja sempre atento a cáries, doenças na gengiva, boca seca e lesões na boca.