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Nazaré Beleza e Perigo 

A intrigante e pequenina Vila de Nazaré em Portugal, pacata, familiar, outrora uma vila de pescadores, sucumbiu ao arrasador turismo que a transformou na cidade das ondas gigantes, onde o espetáculo é o perigo constante das enormes ondas caçadas pelos surfistas do todo o mundo. 

Euvaldo Pinho*/CB
Ed. 119 abril 2021

Suas estreitas ruas de pedra, cidade com habitantes oriundos de pescadores, que lembra muito Salvador/Bahia por ter parte dela edificada ao nível do mar e parte no alto, chamada de Sítio. Com acesso por meio de um "funicular" (conhecido como bondinho inclinado), longa escada para os mais fortes e atléticos, e por veículos que, através das estreitas ladeiras, ajudam a manter as tradições. Na praça da matriz, mulheres idosas caracterizadas com vestimentas tradicionais, esbanjando simpatia, vendem frutas secas e doces típicos portugueses, maravilhosos, são um convite ao descanso, a degustação, a integração e a uma boa oração. 

No verão é muito procurada pela curtição em suas praias não só pelos portugueses mas também por turistas de outros países, já no inverno, de outubro a fevereiro, não há quem resista de ir apreciar os surfistas que se deslocam para lá afim de desafiarem as colossais ondas gigantes arriscando suas vidas executando manobras radicais. Destaque para as centenas de gaivotas que deitadas na praia aguardam as embarcações dos pescadores retornarem, da qual se nutrem dos restos dos pescados.

 

E por que ondas tão enormes? As tempestades e os ventos no Atlântico podem gerar ondas grandes, mas em Nazaré existe uma peculiaridade, a formação geológica de uma vala submarina, com mais ou menos 5 km de profundidade, apontando diretamente para a Praia do Norte. A energia das cheias da maré concentra-se em virtude desse acidente geográfico, produzindo ondas monumentais de 30 metros de altura bem em frente ao famoso Farol de Nazaré, hoje um minimuseu do surfe contendo pranchas quebradas, outras não, deixadas pelos corajosos e experientes surfistas de todo mundo, como um legado para os que ainda enfrentarão as super ondas. 

Pelos motivos acima expostos, também fomos atraídos para conhecer Nazaré que é um dos locais mais procurados de Portugal. Partimos de Lisboa (121 km) pela A8, uma das vias rápidas que unem várias cidades portuguesas, pilotando um Fiat 500 a diesel, maravilhoso, quando será que no Brasil poderemos adquirir carros movidos a diesel? 

Ao chegarmos em Nazaré pela rua principal, visualizamos um verdadeiro cartão postal com sua ampla malha de vielas de piso de pedra que descem até a praia. 

Nazaré é o resort mais pitoresco da costa da Estremadura. O centro da cidade a beira mar, é atulhado de restaurantes de frutos do mar e bares, seus habitantes, em trajes tradicionais, oferecem aluguel de quartos. Continuamos seguindo o fluxo do trânsito, viramos à esquerda e costeando fomos curtindo os outdoors que chamavam a atenção para a atração máxima da cidade, as "Ondas Gigantes de Nazaré", até o cais de onde saem os competidores na época dos campeonatos. 

Ao retornarmos pela mesma via, seguimos em direção ao Promontório do Sítio, que está localizado em cima do penhasco. A primeira construção no local data de 1182 e o primeiro santuário em 1377. Suas principais atrações são o Santuário que remonta ao século XIV, o Centro histórico, o Museu, o Mirante e o Farol que fica no Forte de São Miguel Arcanjo. Ao redor de uma grande praça, há várias lojinhas e restaurantes. Já em frente à praça, visitamos a grande igreja barroca de Nazaré que tem um imenso acervo de azulejos holandeses decorando todas as suas paredes além de uma antiga estatua da Virgem Maria, uma Madona Negra alimentando o Menino Jesus. 

Ao sairmos da Igreja, seguimos a pé para o Forte de São Miguel Arcanjo,  (1577) situado no topo do promontório rochoso onde foi palco de grandes batalhas dos invasores pelo mar. Hoje é lembrado por servir de mirante para se apreciar o espetáculo das Ondas Gigantes de Nazaré. Fica localizado bem em frente ao Canhão de Nazaré de onde surgem as famosas ondas. No pátio do Forte, podemos ver de perto o Farol do Forte que desde 1903 adverte os navegadores para a costa rochosa e a navegação perigosa na época das ondas gigantes. 

Quando nos deslocamos para o forte, deparamos com uma estátua do Cervo surfista (2016), uma curiosa estátua de um surfista com cabeça de cervo que fica no caminho para a Praia do norte. Essa estátua foi idealizada para homenagear os destemidos surfistas. Ao mesmo tempo, remete a uma história de um milagre ocorrido em 1182, quando um caçador escapou de cair do penhasco durante a caçada a um cervo. 

Continuando nosso passeio por uma íngreme ladeira cheia de curvas nos depararmos com um empatizante restaurante para o nosso almoço no qual degustamos um autêntico bacalhau e para finalizar, tomamos uma "talagada" de vinho do porto. 

O Farol de Nazaré fica localizado no pátio do Forte de São Miguel Arcanjo, uma construção tão antiga quanto bela que, durante o inverno, parece que vai ser engolido e destruído pela cortina de água originada pelas ondas monumentais. É caso para se pensar, como alguém pode ser atraído a enfrentar semelhante perigo???? Porém esta resposta cabe a cada cabeça pensante. Como não poderia deixar de ser, toda a infraestrutura para estes eventos do surfe é montada para os possíveis e perigosos imprevistos, pois algo acontecendo só há uma saída, ser resgatado por uma das potentes e adaptadas motos aquáticas, conhecidas popularmente como Jet Ski, que se jogam na praia com o socorrido para obter os primeiros socorros. É SURREAL!!! 

Dando prosseguimento, seguimos até um outro mirante onde tem uma fantástica vista para a cidade baixa com seus telhados vermelhos e a praia do setor sul, bem mais calma e convidativa, apesar das águas serem bastante frias, compramos as frutas secas para abastecer o nosso farnel, vendidas pelas senhoras de saias rodadas e calçolas coloridas (me permitam o termo), de onde ficamos apreciando os lindos telhados vermelhos das casas da parte baixa da cidade. E, com vontade de não partir, continuamos com nossa viagem, nos vendo POR AÍ... 

*Euvaldo Pinho é servidor aposentado da JFBA e colaborador da revista

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