Entre o mar e os pescados
Conheça a Baía de Camamu - a terceira maior e mais bem preservada do Brasil e comece e a se planejar para sua próxima viagem – pós-pandemia.
Euvaldo Pinho*/CB
Ed. 111 Jul 2020
A Baía de Camamu, no estado da Bahia, perde em tamanho tão somente para a Baía de Todos os Santos, no mesmo estado, e para a Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro. Em compensação, continua sendo a mais bem preservada e cheia de atrativos naturais: rios, cachoeiras, praias, ilhas e muita prosa com os nativos. Tudo isso sem contar com o fato de ser pouquíssimo poluída.
Mas, infelizmente, dentro em breve perderá esse status de beleza natural em prol do progresso. Focarei no pouco que conheço daquela imensidão ainda preservada e vivida por seus moradores, alguns poucos velejadores e turistas que se aventuram por aquelas bandas ainda inalcançada pela violência urbana reinante em nosso Brasil.
A Baia de Camamu deságua no Oceano Atlântico levando uma infinita quantidade de nutrientes que enriquecem as águas na sua desembocadura, onde pescadores se abastecem de seus pescados, inclusive, o por lá tão famoso, mas pouco conhecido no restante do país, "camarão do mangue". Delicioso!
Pode ser acessada por barcos que partem da cidade de Camamu, na Costa do Dendê (sul do estado da Bahia), das redondezas e/ou da cidade de Salvador, do município de Valença e adjacências, ou por Itacaré, em estradas não muito boas, mas com locais e vistas belíssimas.
O lugar é relativamente ocupado, mas há uma paz infinita que pouco foi alcançada pela periculosidade galopante existente em nosso País. O porto de Camamu é de difícil acesso, quase até inacessível por barcos de grande porte, porém muito farto com todos os tipos de pescado. Suas ilhas quase inexploradas são de uma riqueza natural somente vistas por quem lá se aventura e pode degustar tudo quanto é o tipo de mariscos, lagostas, camarões do mangue, caranguejos, peixes... Encontrei por lá, copiei e fiz em minha casa um secador de copos sui generis, feito de galhos secos, onde meramente eram penduravam os copos lavados que secavam rapidamente e encantavam os fregueses. Coisas simples que me atraem!
Na península de Maraú, a sua margem direita, existe, em mau estado de conservação, uma pista de pouso para aviões pequenos que era usada pelos fazendeiros. Na margem da baía, algumas poucas casas de nativos, inclusive a de Orora e Onila, duas idosas negras angolanas com mais de 90 anos, onde sempre ancoramos quando por lá vamos ao encontro da paz.
Elas moram em uma casa de taipa, de chão de terra batida, seu fogão de lenha é no quintal onde fazemos nosso churrasco de caldas de lagosta banhadas em manteiga de garrafa ou de alho com arroz branco cozido no leite de coco. Para beber, água de coco ou cerveja, (que) pegamos na geladeira e anotamos numa caderneta para posterior pagamento. Confiança total ainda existe por lá. Para se conseguir o gel é preciso encomendar de véspera aos vizinhos, que usam o gerador para encher baldes e panelas
Esqueci-me de informar que a primeira providência tomada ao chegarmos é encomendar e embarcar os cocos tirados por Ronrein (é assim que é conhecida aquela criatura adorável, tendo em vista uma deformação de nascença no nariz que anasala sua voz). Ele tem uma barraca na beira da praia, lugar onde prepara iguarias ao modo simples caseiro, de paladar inigualável. Ali, na maré alta, ficamos sentados dentro d'água curtindo o momento e vendo a vida passar, ou melhor, navegar...
Por perto, onde andamos a pé, encontramos o povoado de Barra Grande, alcançado por uma pista que mais parece pista de Off Road. O local dispõe de algumas pousadas para todos os bolsos, tem ruas que permanecem de areia até os dias de hoje. É uma vila muito agradável e silenciosa, com um banho de mar inigualável, por enquanto. O lugar lembra muito a Vila de Mangue Seco no outro extremo da Bahia. Facilmente encontramos uns pequenos saveiros que nos transportam a qualquer lugar após acertar o preço.
Não posso me esquecer de ressaltar a famosa, atrativa e gostosa Cachoeira do Tremembé, que para alcançá-la é preciso navegar algumas horas pelos canais dentro do mangue. Um espetáculo à parte!
Ilhas... Temos que escolher dentre tantas merecedoras de serem visitadas. A mais falada e procurada para fotos e banho é a ilha da Pedra Furada. Nas fotografias que ilustram esta matéria você confere o porquê do nome. A ilha de Goió tem um restaurante tão bom quanto tão simples, só temos que tomar cuidado com a maré, que pode estar cheia ou enchendo, para não encalharmos ao adentrarmos no canal.
Em tempo integral, nós nos hidratamos com água de coco da melhor qualidade, da qual mandamos fazer gelo para colocarmos numa boa dose de uísque, gosto não se discute! Ninguém é de ferro, apreciar um céu sem lua e tão claro através das luzes das estrelas é algo indescritível, e com um bom banho de mar noturno então...
Seguimos Por Aí relatando viagens que deixaram saudade, enquanto não é possível realizar novas rotas nesta quarentena.