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Terapia para a alma

Nesta edição, Euvaldo Pinho nos conta como foram os dias em Fakarava, na Polinésia Francesa, onde mergulhadores do mundo inteiro se reúnem para conviver com uma vida aquática sublime, considerada pela Unesco “Reserva da Biosfera”

Euvaldo Pinho*/CB
Ed. 115 Nov 2020

Fakarava, que significa “bonito”, é o segundo maior atol da Polinésia, com sua lagoa de uma beleza tão serena que prende a atenção de quem a conhece.  Existe uma certa pureza na ilha e uma elegância calma da vida marinha que povoa sua existência nas rasas águas próximas da costa, instigando como um imã. Cada vez que a olho, sinto seu encanto pela primeira vez. A vida em suas pequenas vilas, com suas ruas ladeadas de buganvílias, as radiantes igrejas de coral, casas pitorescas, padarias, lanchonetes e restaurantes.  É como se tudo isso parecesse flutuar sobre as águas límpidas que cercam essa Reserva da Biosfera da Unesco.


Localizada a sudeste de Rangiroa, Fakarava abriga a segunda lagoa dos atóis de Tuamotu, no Tahiti. Esse recife retangular envolve um ecossistema tão rico que é uma reserva natural para muitas espécies raras de pássaros, plantas e crustáceos. A área dentro e ao redor de Fakarava é conhecida por proteger uma variedade de vida selvagem endêmica. Assim como essas criaturas exóticas descobriram este refúgio seguro, nós também encontramos nosso refúgio aqui... Em Fakarava o mundo parece impecável!


Tal como acontece com muitos dos atóis de Tuamotu, Fakarava é um dos cinco grandes destinos de mergulho do mundo. Existem duas passagens notáveis que alimentam a lagoa. A primeira passagem é o Passo Garuge, ao norte, que é o mais largo e navegável da Polinésia Francesa. A segunda passagem é a de Tumakahua, ao sul. Esta passagem é o lar de um estreito vale subaquático conhecido como Burk`s Hole, que é densamente povoado por tubarões-limão, galhas-brancas e tubarão-martelo. Ali mergulhamos no estofo (parada) da maré, seguindo direto para o fundo do canal, onde nos prendemos por uma cinta nas pedras por causa da correnteza e ficamos admirando os tubarões se alimentarem dos peixes que saíam da lagoa para o mar aberto, a natureza se revelando na sua grandiosidade.

Devido à designação da Unesco de que Fakarava é uma Reserva da Biosfera, há uma grande responsabilidade, e a comunidade local está ativamente envolvida nos esforços de conservação.  A maioria dos mais de 900 habitantes trabalham com pérola e copra (carne seca, ou a fruta do coco usado na extração do óleo) e vivem principalmente nas duas vilas de Rotoava e Tetamonu. Como a subsistência dos moradores depende dos recursos naturais, eles entendem a importância do desenvolvimento sustentável e se esforçam para proteger a biodiversidade da região.


Fakarava pode não atrair muitos visitantes, mas o local isolado é mais do que digno de seu tempo. Há um verdadeiro carisma genuíno em torno do atol, os moradores recebem de braços abertos e sorrisos graciosos todos que se aventuram por suas paragens.

A vila principal de Fakarava é Rotoava e está localizada no maior motu (ilhota) contínuo da Polinésia Francesa. Essa estreita faixa de terra abrange os lados norte e leste da lagoa e é cercada por praias extraordinariamente belas. A vida ao longo dessas praias tranquilas é especialmente única. As atividades de lazer incluem nada mais do que a pesca e o mergulho com cilindro ou snorkel.

Mergulhadores de todo o mundo viajam para o local a fim de experimentar a sensação de conviver com enormes cabeças de corais fluorescentes, tubarões de recife e de galha branca, estrujões, percas, barracudas, atuns, raias mantas e golfinhos com excelente visibilidade subaquáticas e temperatura de água mais parecida com a de um banho morno caseiro do que a de um oceano.

Sabores de Fakarava

Frutas tipo coco, manga, mamão, abacaxi, grapefruit, fruta-pão (uru), bananas, entre outras, são utilizadas em coquetéis predominantemente feitos com rum e sucos e servidos com tortas que têm um toque de baunilha (ingrediente sensual e inebriante característico do Tahiti).


Os frutos do mar incluem peixes das lagoas ou do mar aberto, variando entre as percas, os mahi mahi e o peixe-papagaio, frequentemente consumidos crus, ocasionalmente marinados em sumo de limão e leite de coco, como na famosa receita "poisson cru à la tahitienne", são de dar água na boca...

Todos esses alimentos tropicais são encontrados nos tradicionais "ahima a", ou fornos polinésios, onde frutas, hortaliças, leitões, galinhas, tortas de fruta e outas iguarias são cozidos. Tudo é salpicado com leite de coco e fica deliciosamente cremoso.

Curiosidades

O renomado pintor francês Henri Matisse (1869-1954) passou três meses no Tahiti em 1930 explorando a região de Fakarava, onde se deslumbrou com a infinita variedade e tons de azul da lagoa. Foi uma descoberta tal que originou uma famosa nova fase artística e criativa para Matisse.

Quanto a mim, o que mais me impressionou foram os locais específicos para o trabalho com as pérolas negras, onde tivemos uma aula de como são produzidas (ostreicultura):  os ostreicultores retiram as ostras do cativeiro e, no laboratório, colocam dentro delas, no nácar, um grão de areia. A ostra, para aliviar seu desconforto, reveste paulatinamente o grão com carbonato de cálcio que a endurece formando a pérola.

Finalizando a visita, esses ostreicultores nos venderam ostras escolhidas por  nós, cada um selecionava a sua, provavelmente contendo uma pérola. Se por acaso não contivesse a pérola, outra ostra seria escolhida, sucessivamente até que encontrássemos uma com pérola (é um costume por lá).

Em Rotoava há lojas que vendem todo o tipo de colares e bijuterias de pérolas negras, cultivadas ou verdadeiras, lindíssimas, porém não cabiam no meu bolso!

No hotel, a recepção é simples e funcionários recebem carinhosamente seus hóspedes com seus famosos colares de conchas e um drink local saborosíssimo; as suítes são em bangalôs, tudo em forma de palafitas por causa das marés altas.

Ao caminhar na praia catando búzios e conchas, deparei com um garboso cachorro mancando – mediquei-o com mertiolate e pomada cicatrizante. Daí em diante, cada dia melhor, o animal se tornou meu fiel companheiro: mero detalhe, mas que muito me cativou, pois ele passou a dormir nos degraus do meu bangalô, e até hoje sinto saudades dele.

Seguimos Por Aí!

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