COLOSSAL
Conheça o majestoso Estreito de Corinto, na Grécia, por onde nosso colaborador Euvaldo Pinho navegou, e ele nos conta suas impressões dessa obra de engenharia milenar
Euvaldo Pinho*/CB
Ed. 111 setembro 2020
Procuro algo que se compare a um lugar onde fiz uma travessia e, por enquanto, só me vêm à mente as Pirâmides do Egito em termos de altura, peso das pedras, grandiosidade da edificação etc. Refiro-me ao Estreito de Corinto, na Grécia, cujas paredes de pedra calcária esculpidas pelas mãos dos homens e a cor das águas azul turquesa criam um efeito de beleza sem igual. Eu diria que é um dos cenários mais bonitos da Ilha do Peloponeso. Talvez a paz de estar afastado do turismo de massa seja a razão disso.
Com 6,3 quilômetros de comprimento e 21 metros de largura, o Estreito de Corinto, também chamado Canal de Corinto, foi construído durante 12 anos com perseverança, mas com a ocorrência de muitas mortes. A obra foi marcada com a técnica de construção da época (de 1881 a 1893) cujo objetivo foi encurtar o tempo e o percurso para embarcações de médio e pequeno portes. O Canal interliga o Golfo de Corinto ao Mar Egeu, transformando artificialmente o Peloponeso em uma ilha. (O Peloponeso é uma extensa península montanhosa no sul da Grécia, com 21.439 km²).
O Canal de Corinto é uma ideia antiga. Segundo historiadores gregos, o imperador Júlio César foi o primeiro a planejar abrir esse canal através do istmo (estreita faixa de terra que liga duas áreas de terra maiores). No entanto, esse rei foi assassinado antes que pudesse executar sua obra. Mais tarde, o imperador Nero começou a escavação (ano 67 d.C.) com o trabalho de 6.000 escravos. Porém, esse projeto foi abandonado quando Nero morreu pouco tempo depois de a obra ter sido iniciada. Somente no século XIX o Canal de Corinto foi construído e passou a existir ligando, como já mencionado, o Golfo de Corinto ao Mar Egeu.
Em 12 anos cavando e quebrando pedras, literalmente, eles conseguiram abrir 'na raça' aquele estreito que redunda em um encurtamento de mais de 400 quilômetros de percurso. Imaginem a economia de tempo, de custo, bem como a serenidade de trafegar naquelas águas com tempo normal!
Entre os contratempos e dificuldades, o Canal ficou pronto em 1893, não despertando tantas vantagens dada a sua pequena largura, que não permitia a passagem de grandes navios cargueiros internacionais. Anualmente, só passam por lá cerca de 11 mil barcos de turismo, desde navios até iates e veleiros de grandes e pequeno portes, como podem ver nos registros fotográficos.
ADMIRÁVEL
estávamos em oito tripulantes e zarpamos da ilha de Kefalonia, passamos pelas ilhas de Ítaca e de Patras para reabastecimento de alimentos, combustível e o principal, água. Tudo isso nos preparando para conhecer o tão famoso, curioso e inusitado Estreito de Corinto, nossa meta (além de saborearmos a culinária grega, em sua maioria oriunda de pescados e seu churrasco vertical, o 'giros plate', muito saboroso).
Em ambas as extremidades do estreito há uma espécie de barreira (na verdade, pequenas pontes móveis para carros e pedestres) com o objetivo de sinalizar que o estreito está fechado para navegação nesse sentido. A depender do tempo e da quantidade de embarcações que solicitam permissão para atravessá-lo, o estreito abre a ponte e permite o tráfego nesse rumo e, posteriormente, fecha e abre a ponte no sentido inverso. Por cima de Corinto existe uma linha ferroviária, uma estrada e uma autoestrada com aproximadamente 45 metros de altura e uma outra ponte com um mirante só para os pedestres, para que estes possam curtir a passagem de todo o tipo de embarcação. É admirável!
Ficamos à espera de abrir o canal para nossa travessia, isso com as velas recolhidas, todos uniformizados e com uma garrafa de champanhe gelando para a comemoração, como em todas as outras grandes ocasiões pelas quais passamos. Eu, auxiliado pelos demais, fui alçado e me alojei no topo do mastro com a intenção de conseguir um ângulo melhor para fotografar o evento. Realmente, para nós foi um momento especial, o estreito é algo colossal, tipo as pirâmides do Egito, só que em sentido contrário. Confesso que fiquei a imaginar quantos escravos morreram ali construindo aquela obra espetacular.
Ao soar da sirene, nós nos posicionamos na fila dos barcos que atravessariam o estreito naquele sentido, obedecendo a uma distância maior que a necessária, com o cuidado para qualquer eventualidade. Fomos atrás de um navio azul, todos em marcha lenta, o que nos proporcionou observar os mínimos detalhes. O Estreito nos faz pensar do que somos capazes quando queremos!
Tirei fotos das laterais do Estreito, riscadas na parede de pedra pelos navios maiores que às vezes tocam nelas. Alguns, os maiores, são auxiliados por rebocadores. Para mim, foi algo que jamais esquecerei, algo inusitado.
Vemo-nos Por Aí!