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Preocupação excessiva com o FUTURO
Transtorno de ansiedade atinge mais de 18,6 milhões pessoas no Brasil, que já é considerado o país mais ansioso da América Latina
Matheus Ferraz/LS | Ed. 97 Mar 2019
O transtorno de ansiedade, segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV), é um distúrbio que se caracteriza pela preocupação excessiva ou expectativa apreensiva. A vida urbana faz com que as pessoas, cada vez mais aglomeradas em grandes metrópoles, sintam-se sufocadas em suas rotinas intensas. Trabalho, escola, trânsito, tarefas de casa, responsabilidades, obrigações... tudo é muito imediato e às vezes até simultâneo.
De acordo com um relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é considerado o país mais ansioso da América Latina, aproximadamente 18,6 milhões de pessoas foram diagnosticadas com transtorno de ansiedade até 2017, desde 2015.
A incidência da doença é mais comum em mulheres (4,6%) do que em homens (2,6%), e a faixa etária mais afetada é entre 55 e 74 anos. Apesar disso, qualquer pessoa está predisposta a desenvolver o transtorno, que pode se manifestar em qualquer idade.
Ter ansiedade é comum
Não seria errado dizer que todo ser humano tem ansiedade, afinal, ela “é um mecanismo originalmente protetor do indivíduo, pois, diante de um fator estressor interpretado como perigo, ocorre uma reatividade física e mental para buscar solução imediata”, como explica a psiquiatra Ana Paula Faber.
É um tipo de emoção que nos ajuda desde os primórdios da humanidade e, se não fosse por ela, muito provavelmente nossos ancestrais não teriam sobrevivido a tantos perigos. Ameaças de predadores, fome, frio e rejeição por parte do grupo eram só alguns dos problemas, que foram enfrentados graças ao receio do que está por vir e à capacidade de reagir em busca de soluções. Em outras palavras, graças à ansiedade.
Situações como essa provam que esse tipo de emoção é benéfico para o funcionamento do nosso corpo e para a nossa sobrevivência. Entretanto, o excesso de ansiedade pode trazer graves consequências.
“O problema surge quando a reatividade do organismo se torna excessiva, com pensamentos catastróficos, ruminantes e intrusivos, medos, inseguranças, irritabilidade e hiperatividade física (taquicardia, tremores, dificuldade em respirar, dores e tensões musculares, alterações do apetite e do sono etc.)”, esclarece Ana Paula.
Quando a inquietação por diversas situações é exorbitante, a ansiedade se torna um tipo de doença mental: o transtorno de ansiedade generalizada (TAG), que está relacionado ao desequilíbrio de neurotransmissores naturais do corpo, a exemplo da serotonina, responsável pelo bem-estar; da dopamina, conhecida como hormônio do prazer, e da norepinefrina, que influencia o humor.
O TAG pode ser genético ou desencadeado por fatores externos, como o estresse constante. E, independentemente do agente causador, pode implicar em consequências físicas, tais como doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), doenças cardíacas, hipotireoidismo ou hipertireoidismo (disfunção na tireoide que causa queda e excesso, respectivamente, da produção de hormônios) e menopausa.
É preciso saber diferenciar a ansiedade ocasional, que é uma reação normal do organismo, da ansiedade frequente, com excesso de preocupações, prejudicando a vida pessoal e profissional.
Aumento das batidas do coração, respiração ofegante, falta de ar, aumento do suor são alguns dos sintomas que podem afetar pessoas ansiosas. A preocupação excessiva sobre algum acontecimento gera esses sintomas.
Matheus Ferraz
Fatores de risco
Existem vários fatores que aumentam o risco de TAG. Traumas fortes na infância, doenças crônicas que causam estresse diário como o câncer e transtornos de personalidade como o Borderline podem ser gatilhos para o TAG. Também são fatores de risco: a genética, o uso de drogas e o excesso de cafeína e de nicotina.
Cafeína – Bebida comum no Brasil, o café está presente na vida e na rotina da maioria dos brasileiros. O problema é que o consumo excessivo dessa bebida pode causar taquicardia, ataques de pânico e até ansiedade.
A cafeína atinge o cérebro em apenas 20 minutos e afeta diretamente o sono de quem a consome porque pode bloquear a absorção de adenosina, o neurotransmissor ligado ao sono. A substância aumenta o estado de alerta e diminui o tempo de reação, elevando a pressão arterial e também os sintomas associados à ansiedade.
“Doses de até 200 ml ao dia podem ser benéficas para melhorar alguns aspectos cognitivos, como a atenção. Porém, o consumo abusivo e prolongado da substância pode gerar o cafeinismo, que é a intoxicação por cafeína que gera mal-estar geral, com inquietude, agitação psicomotora, irritabilidade, tensão muscular, taquicardia, insônia, ansiedade e até confusão mental”, alerta a psiquiatra Ana Paula.
Justamente por ter um papel estimulante, a cafeína não é indicada para pessoas ansiosas. E até mesmo quem não tem o transtorno deve ter cuidado com o café; para não ter o sono prejudicado, o recomendado é tomar, no máximo, três xícaras de café de 150 ml por dia.
É possível prevenir
A servidora Anatéia da Silva, de 51 anos, sofre de TAG. Para ela, devido a rotinas cada vez mais exigentes, as mulheres ‘multitarefas’, responsáveis por família, trabalho, casa e contas, estão mais propensas a ter o transtorno. Porém, ela assegura que é possível driblar os sintomas da TAG. Ela aconselha que “evitar pensamentos negativos, ter boa alimentação e praticar exercícios físicos regularmente é importante para quem está em crise”.
Segundo estudo feito pelas instituições de ensino Southern Methodist University in Dallas e University of Vermont in Burlington, nos Estados Unidos, praticar exercícios físicos regularmente pode ajudar a prevenir ataques de pânico e ansiedade.
Mais de 140 adultos inalaram dióxido de carbono, que provoca sensações corporais como náuseas, taquicardia, tonturas, dores no estômago e falta de ar. Após a inalação, quem praticava esporte regularmente sentiu menos os efeitos do gás do que os sedentários. Com a ansiedade, funciona da mesma forma.
Além de exercícios físicos, a alimentação faz toda a diferença. A nutricionista Luciana Battella explica: “pessoas ansiosas têm um desequilíbrio de neurotransmissores, principalmente da serotonina. Esta substância é formada a partir de um nutriente, e para ajudar na formação dela é necessário ingerir magnésio, vitamina D6, triptofano e vitamina B3. Consumir alimentos que são fonte desses nutrientes acaba sendo importante na diminuição da ansiedade”.
É recomendável também diminuir o consumo de produtos industrializados e estimulantes que afetam o corpo humano, como bebida alcoólica, café, refrigerante e chocolate.
A substituição dessas bebidas por chás é uma boa opção para quem sofre do transtorno, como fez a servidora Kalinca Galvão, de 41 anos, que, além de praticar exercícios, consome chás para aliviar o estresse da rotina. Camomila, erva-doce e passiflora são os mais recomendados por serem relaxantes e ansiolíticos.
Outro aliado contra o estresse do dia a dia é o abacate. “O betatestosterol, presente no abacate, tem uma propriedade moduladora do cortizol, que é o hormônio do estresse”, explica Luciana Battella.
Apesar disso, especialistas alertam que exercícios físicos e alimentação saudável não substituem o tratamento com remédios ou psicoterapia. A depender do grau de transtorno, é importante unir todas as atividades que são benéficas para o corpo e para a mente a fim de se evitar as crises de ansiedade.