top of page

Verde, amarelo e... manchas vermelhas

Sarampo é uma das principais causas de morte entre crianças, e o Brasil enfrenta surto da doença em dois estados

Internet

Larissa Santos/TS | Ed. 86 Mar 2018

Imagine acordar e perceber que o seu corpo está coberto de manchas avermelhadas, da cabeça aos pés. É provável que isso signifique apenas uma alergia, mas é preciso estar atento aos sinais.

Essas manchas, acompanhadas de infecção nos ouvidos, pneumonia e ataques (tais como convulsões e olho fixo) podem ser um alerta de sarampo. Porém, a doença começa a dar indícios bem antes das manchas vermelhas. Dentre os sintomas iniciais estão: febre, tosse persistente, irritação ocular e corrimento no nariz.

Bastante comum na infância, o sarampo atinge mais gravemente desnutridos, recém-nascidos, gestantes e pessoas com imunodeficiências, se tornando uma das principais causas de morte entre as crianças. O principal grupo de risco envolve pessoas que tenham entre seis meses e 39 anos de idade. Entre os adultos, os mais suscetíveis à doença são trabalhadores de portos e aeroportos, de hotelaria e profissionais do sexo, já que estão mais expostos a turistas ou imigrantes de locais onde há ocorrência de sarampo.

A doença, classificada como infecciosa, é causada por vírus e altamente contagiosa. A transmissão ocorre de pessoa para pessoa por meio de tosse, espirros, fala ou até mesmo da respiração, devido à dispersão no ar de gotículas contaminadas com o vírus, que podem perdurar por longo período de tempo no ambiente, principalmente em locais fechados, tais como escolas e hospitais.

De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o contágio ocorre na primeira fase da doença, em que a pessoa infectada apresenta febre, mal-estar, coriza, irritação ocular, tosse e falta de apetite, e pode durar até quatro dias depois do aparecimento das manchas vermelhas.

O médico infectologista Antônio Magela explica que, no início, o sarampo é uma doença infecciosa como qualquer outra, o que dificulta o diagnóstico. Somente a partir do quarto ou quinto dia de sintomas é possível realizar o diagnóstico com precisão.

Ele afirma que existe apenas uma forma de detecção do sarampo: os exames laboratoriais. A confirmação da doença pode ocorrer por meio da identificação do material genético do vírus; do próprio vírus durante a fase aguda ou até mesmo no período após a manifestação da doença, com a identificação de anticorpos específicos desenvolvidos pelo organismo de uma pessoa infectada.

Qualquer pessoa está suscetível a pegar sarampo, e a única forma de se prevenir é a vacinação. Conhecida como tríplice viral, pois combate três doenças (rubéola, sarampo e caxumba), a vacina deve ser tomada, seguindo recomendação do Ministério da Saúde, em apenas uma dose por adultos de 30 a 49 anos e duas doses por pessoas de cinco a 29 anos de idade.

As crianças menores também devem receber duas doses: a primeira com 12 meses de idade, e a segunda entre 15 meses e quatro anos; porém, a segunda dose deve ser adicionada de componente de combate à varíola, passando a ser chamada de vacina Tetra Viral.

Já os recém-nascidos cujas mães foram vacinadas têm anticorpos temporários, contra a doença, que são transmitidos pela placenta e oferecem imunidade ao longo do primeiro ano de vida.

A partir de 50 anos de idade, a vacina não é mais indicada porque “a probabilidade dessas pessoas terem tido contato com o vírus do sarampo e já terem desenvolvido a imunidade é muito grande”, esclarece o infectologista.

Certificado de Eliminação

Em 2016, a região das Américas (do Norte, Central e do Sul) foi declarada pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS/OMS) como a primeira região livre de sarampo no mundo.

A doença se tornou a quinta prevenível por vacinação a ser eliminada nas Américas, antecedida pela varíola, em 1971; pela poliomielite, em 1994; pela rubéola, em 2015, e pela síndrome de rubéola congênita no mesmo ano.

Entre 1971 e 1979, antes do início da vacinação intensiva, o sarampo foi a causa de morte de cerca de 2,6 milhões de pessoas no mundo e quase 102 mil somente nas Américas. A OPAS/OMS estima que a vacina evitou 20,4 milhões de mortes entre 2000 e 2016, resultando em uma queda de 84% nos óbitos por sarampo no mundo.

O último surto da doença na região havia sido registrado em 2002 na Venezuela, e no Brasil o último caso foi comprovado em julho de 2015, justificando o recebimento do certificado de eliminação da doença. Porém, devido ao alto risco de contágio e à permanência da circulação do vírus no restante do mundo, as Américas não estavam totalmente livres de novos surtos.

Novos casos

A comemoração da eliminação do vírus não durou muito tempo. Em 2017, Argentina, Canadá, Estados Unidos e Venezuela confirmaram casos da doença, enquanto que no continente europeu a incidência quadruplicou.

Nos dois primeiros meses de 2018, nove países americanos relataram casos confirmados de sarampo. Antígua e Barbuda, Brasil, Canadá, Colômbia, Estados Unidos, Guatemala, México, Peru e Venezuela constataram, juntos, quase 200 casos da doença. Só na Venezuela foram 159 ocorrências, seguida no ranking pelo Brasil, com 14.

Incidência de sarampo nas Américas nos dois primeiros meses de 2018

 

 

 

 

No que diz respeito ao Brasil, os dados publicados no Boletim Epidemiológico da OPAS/OMS, em 16 de março deste ano, são preocupantes. A organização denuncia um surto em andamento de sarampo no estado de Roraima. São 50 casos suspeitos da doença, dos quais 14 foram confirmados e 36 ainda estão em investigação.

Os casos confirmados são de cidadãos venezuelanos, de idade entre 9 meses e 18 anos e não vacinados. O Ministério da Saúde esclarece que isso ocorre devido ao recebimento de um grande volume de imigrantes venezuelanos, tendo em vista que o país enfrenta um surto da doença, principalmente no município de Caroni, que faz fronteira com o Brasil.

Mas Roraima não é o único estado brasileiro a apresentar casos de sarampo. Um balanço feito pela Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM), em 29 de março, aponta que há 61 casos suspeitos da doença no estado, quatro deles confirmados.

Prevenção

Embora o sarampo não tenha tratamento específico, as complicações graves da doença podem ser evitadas. Uma boa nutrição, a ingestão suficiente de líquidos e o tratamento da desidratação com soluções orais recomendadas pela OMS são algumas formas de amenizar os efeitos da doença.

Porém, como dizia o velho ditado, ‘é melhor prevenir do que remediar’. O governo federal brasileiro tem adotado medidas de prevenção do sarampo, principalmente nos estados em que a situação é mais alarmante.

A principal estratégia utilizada é a promoção de campanhas de vacinação, especialmente para a população de Roraima e do Amazonas, incluindo nesse grupo os imigrantes venezuelanos.

Além disso, o Ministério da Saúde tem investido na capacitação de profissionais da saúde e na conscientização da população sobre os sintomas, a transmissão e, sobretudo, a importância da vacina.

A OMS recomenda que, para a futura erradicação do sarampo, os países devem alcançar o nível de, pelo menos, 95% na cobertura homogênea de vacinação dos cidadãos.

O infectologista Antônio Magela explica que a situação atual é questão de probabilidade: “quanto maior o número de casos, maior a probabilidade de se ter casos graves. E quanto maior o número de casos graves, maior a probabilidade de complicações e até mesmo de mortes”.

Por isso, é fundamental que a doença não seja negligenciada. O especialista alerta: “há relatos de que a decadência de grandes impérios da antiguidade se tenha dado, entre outros fatores, por meio de epidemias que acometiam aquelas populações, que não conheciam e não tinham imunidade para as doenças e eram devastadas e praticamente destruídas. Isso se aplica ao sarampo. Não se pode menosprezar o risco de que as pessoas desenvolvam formas graves da doença. Devemos ficar atentos diante da possibilidade de casos graves e até mesmo de mortes”.

Com informações do G1

bottom of page