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NARGUILÉ TAMBÉM FAZ MAL À SAÚDE

Dia Nacional de Combate ao Fumo: campanha do Ministério da Saúde aborda o uso desse cachimbo tão popular entre os jovens

Renata Fontes | Ed. 102 Ago/Set 2019

Foi aos 16 anos que Ubiratã Medeiros Pereira Júnior experimentou o narguilé pela primeira vez. “Pura curiosidade”, como explica, “em um barzinho que frequentava com os amigos”. Logo, fumar narguilé se tornou um hábito, que persiste até hoje, já com 23 anos e recém-formado em Direito.

O narguilé é um cachimbo à base d’agua, de origem oriental, constituído por tabaco e que pode conter melaço, frutas, flores, aromatizantes ou flavorizantes em sua composição. O sabor das essências caiu no gosto dos jovens, que têm popularizado o consumo pela essência suave e pelo fato de poder ser usado por várias pessoas ao mesmo tempo. Porém, pode se tornar a porta de entrada para a dependência de nicotina e do consumo de outras formas de tabaco.

É por esse motivo que, na campanha deste ano, Instituto Nacional de Câncer (Inca) aborda o uso desse cachimbo, com o tema: Tabaco ou saúde pulmonar – o uso do narguilé, que tem o objetivo de aumentar a conscientização sobre o impacto negativo que o uso de tabaco e a exposição ao fumo passivo exercem sobre a saúde. Segundo o Ministério da Saúde, a faixa etária dos consumidores desse novo produto são jovens de 13 a 35 anos, do sexo masculino.

Em reportagem publicada sobre essa campanha que foca os perigos do uso do narguilé, a Secretaria de Saúde do estado do Ceará alertou que, tratado como menos nocivo, seu uso pode desencadear danos semelhantes ao cigarro convencional – ou até mais graves. A pneumologista do Programa de Controle do Tabagismo do Hospital de Messejana, Penha Uchôa, explica, na matéria, que uma sessão de narguilé expõe o fumante à inalação de fumaça por um período maior do que quando ele fuma um cigarro. “Uma rodada de narguilé dependendo do tempo da sessão pode ser equivalente ao consumo de 100 cigarros ou mais”, alerta a médica.

 

“O que as pessoas não percebem é que o produto fumado no aparelho tem como base o tabaco que, quando queimado, é tão prejudicial à saúde quanto um cigarro convencional”, explica a pneumologista Penha Uchôa. A utilização do narguilé e de cigarros eletrônicos em longo prazo podem causar câncer de pulmão, boca e bexiga, estreitamento das artérias e doenças respiratórias. Além disso, o compartilhamento pode expor o fumante ao vírus do herpes, da hepatite C, tuberculose e outras doenças.

Esse tipo de campanha do Ministério da Saúde integra as ações do Dia Nacional de Combate ao Fumo, 29 de agosto, criado em 1986, pela Lei Federal 7.488. Desde então, existe uma agenda governamental voltada para o controle do tabagismo como problema de saúde coletiva, reforçando ações nacionais de sensibilização e mobilização da população brasileira para os danos sociais, políticos, econômicos e ambientais causados pelo tabaco.

Apesar do alerta para evitar a inicialização do uso do tabaco entre os jovens, os dados sobre tabagismo no Brasil, entre pessoas adultas, apontam para uma expressiva queda nas últimas décadas. Segundo o Inca, o percentual de adultos fumantes no país é de 14,7% e representa uma queda de 46% entre os anos de 1989 e 2010.

 

Uso de tabaco na Infância e Adolescência

Embora haja queda no número geral de adultos fumando, é preciso manter o alerta para que adolescentes fiquem longe do tabaco. Em Editorial publicado no Jornal Brasileiro de Pneumologia (nº 6, 2010), “Tabagismo na adolescência: Por que os jovens ainda fumam?”, Alberto José de Araújo, médico pneumologista, afirma que adolescentes experimentam os primeiros cigarros nos intervalos e saídas escolares, que depois passam a serem usados em baladas e em outros momentos ao longo da juventude. Essa experimentação está associada à busca de identidade e de espaço no mundo adulto, diz o médico.

 O controle do início do tabagismo nesta idade é possível e necessário, e mesmo com os indicadores reduzidos ao longo dos anos, como demonstram as pesquisas, continua sendo um desafio, principalmente em países subdesenvolvidos, onde a indústria cada vez mais intensifica suas ações de marketing a preços atrativos.

                Pesquisas que abordem o uso de drogas são fundamentais e necessárias para o desenvolvimento de políticas públicas voltadas para a educação, orientação preventiva e comportamento adolescente. “Todo esse cortejo de medidas é fundamental para que esse tratado de saúde pública possa impactar na pandemia de tabagismo, o qual se inicia como uma doença pediátrica na adolescência, alcança seus efeitos deletérios em curto, médio e longo prazo e se consolida como uma doença crônica e recorrente, sendo a principal causa de morte e adoecimento evitável no mundo”, diz o pneumologista em seu artigo.

“Narguilé não é droga alucinógena”

Ubiratã Medeiros Pereira Júnior, 23 anos, usuário de narguilé

 

Você acha que o aspecto socializador do narguilé, influencie os jovens a experimentarem e em seguida se tornarem fumantes?

Não. Digo isso por experiências vividas, onde posso constatar que pessoas que experimentaram junto a mim não gostaram e consequentemente não continuaram a fumar. Ademais, é importante ressaltar que nem todos que fazem uso do narguilé fumam cigarro, eu, por exemplo, repudio o sabor do tabaco e toda sua composição, diferentemente da composição trazida por uma essência de narguilé.

Você começou a fumar o narguilé com 17 anos, nessa época, em algum momento, já tinha ouvido falar dos malefícios para a saúde do seu uso?

Sim. Eu sempre soube que o hábito de fumar não era saudável. No entanto era uma coisa ocorrida em poucas as ocasiões.

Você já leu alguma matéria ou viu alguma propaganda que alertasse para o uso do narguilé? Onde?

Sim, veiculado em redes sociais e programas de TV. Porém, o que é passado amplamente é sobre a quantidade de “fumaça resfriada” produzida pelo narguilé, a qual, dizem, que é 100 vezes mais prejudicial, tendo por analogia o cigarro. Mas me indago como algo que possui em sua composição mais de 4.500 substâncias e complexos químicos consegue ser menos prejudicial que um que possui 04 (glicerina, melaço, essência utilizada na produção de alimentos e tabaco). Óbvio que se não possuir os devidos cuidados, tal como utilização de quaisquer outros produtos consumíveis, poderão advir consequências.

Seus pais te alertaram para o uso do narguilé?

Meus pais sempre abominaram a ideia de utilização do narguilé. Porém, as pessoas, por desinformação, acreditam que o narguilé é uma droga, equiparada às drogas alucinógenas, tendo como analogia a maconha.

Tribunal ajuda quem quer parar de fumar

O Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) conta com acompanhamento psicológico para servidores que querem parar de fumar. Todo o procedimento de abordagem ao paciente segue protocolo do Ministério da Saúde. A psicóloga do Tribunal Maristela Aires da Fonseca explicou detalhes do tratamento.

O Psicólogo tem função fundamental no acompanhamento de usuários de tabaco que querem deixar de fumar, bem como no acompanhamento de usuários que estão em abstinência, como é feita a abordagem para o tratamento desses pacientes?

O tabagismo é uma das principais causas de morte prematura em todo o mundo. Sabemos que as pessoas que fumam têm motivos para fumar, e motivos para não fumar. Essa decisão é antes de tudo uma decisão pessoal e intransferível. O papel do Psicólogo consiste em ajudar o fumante a encontrar o melhor caminho para deixar de fumar, com menos sofrimento.

Uma das abordagens que vêm sendo bastante utilizadas no tratamento com usuários de tabaco é a entrevista motivacional breve, baseada no modelo transteórico proposto na abordagem da Terapia Cognitiva comportamental. 

Pacientes que se tornaram fumantes ainda na infância e na adolescência mostram resultados positivos em seus tratamentos? Eles conseguem realmente deixar o vício?

Sim. Em nosso país, o consumo de tabaco diminuiu significativamente entre os adultos. No entanto, infelizmente, continua estável - ou, ainda, sofreu um leve aumento na população jovem, entre dez e dezenove anos.

 

Pesquisas recentes apontam que o consumo de tabaco entre adolescentes ainda é preocupante e merece uma atenção maior por parte não só dos órgãos governamentais, mas também de toda a sociedade.

Nas mais recentes pesquisas sobre tabagismo, o Brasil demonstra uma queda expressiva no número de fumantes. Você acha que os resultados positivos como esse são consequência da implementação de políticas públicas voltadas para a prevenção?

Sem dúvida. Penso que é possível avançar ainda mais nos trabalhos de prevenção, na disponibilidade de tratamento e no controle dos produtos de tabaco.

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