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O perigo que mora no ar

Criptococose mata aproximadamente 180 mil pessoas no mundo anualmente e é contraída pela respiração

Larissa Santos/TS | Ed. 87 Abr 2018

Criptococose: o nome é difícil de pronunciar, mas o principal transmissor é mais comum do que se imagina. Também conhecida como Torulose, Blastomicose Europeia, doença de Busse-Buschke ou simplesmente doença do pombo, a criptococose é transmitida principalmente pela ave que habita os centros urbanos.

Considerada uma doença infecciosa letal, é causada por um fungo denominado cryptococcus, que está presente nas fezes dos pombos e tem duas variações de vírus: neoformans e gattii.

O neoformans é oportunista, ou seja, mais frequente em pacientes com o vírus HIV (Aids) que têm a imunidade comprometida, já o gattii pode atingir qualquer pessoa e é mais letal, causando a morte em cerca de 40% dos casos diagnosticados.

O cryptococcus apresenta tropismo, ou seja, o fungo poder mudar de direção de crescimento devido a fatores externos. Esse crescimento ocorre no sistema nervoso central, podendo causar meningoencefalite (inflamação que atinge o cérebro e as meninges) e até a morte.

Em termos globais, segundo a Rede Criptococose do Brasil (RCB), são notificados entre 200 e 300 mil casos da doença anualmente, sendo que cerca de 180 mil resultam em óbito. Algumas regiões da África e da Ásia podem registrar letalidade entre 50% e 70% dos casos notificados, e algumas localidades do Brasil podem apresentar taxas de óbito próximas às porcentagens de África e Ásia.

Nos países desenvolvidos, o índice de mortalidade registrado gira em torno de 20% a 30%. A estimativa para o Brasil é que esse índice alcance entre 40% e 60%.

Os dados da incidência nacional da criptococose são inconsistentes em razão de a doença não ser de notificação compulsória, ou seja, as autoridades de saúde não são obrigadas a fazer o registro da quantidade de casos.

“Estamos brigando para que a doença passe a ser notificada e para que haja um posicionamento da Saúde Pública, especialmente no que se refere ao diagnóstico precoce da criptococose nas pessoas vivendo com Aids, pois isso é fundamental para que possamos minimizar os riscos de morte”, afirma a coordenadora da Rede Criptococose do Brasil (RCB), Márcia Lazéra.

É o caso do locutor de rodeios Asa Branca. Paciente com o vírus HIV, ele contraiu a criptococose devido à baixa imunidade e teve o sistema nervoso central atingido pela doença, o que resultou na perda dos movimentos e de peso, chegando a pesar 40 quilos. “Não gostava nem de me olhar no espelho de ver a situação que eu estava. Mas a fé eu nunca perdi”, relevou Asa Branca em entrevista ao portal G1.

Sintomas – O fungo é contraído por meio das vias respiratórias durante a inalação e atinge primeiramente os pulmões, causando uma infecção pulmonar e podendo progredir para uma meningoencefalite.

Os sintomas são tosse com muco ou sangue, febre, suores noturnos, emagrecimento, fraqueza, dor de cabeça, náuseas, vômitos, rigidez da nuca e fotofobia (sensibilidade à luz). A doença também pode causar diminuição no nível de consciência, convulsões, cegueira e surdez, dependendo da região do cérebro que for atingida.

Apesar de a transmissão ser feita principalmente pelas fezes do pombo, esta não é a única forma de se contrair a enfermidade. Vitor Laerte, coordenador do Programa de Epidemiologia e Vigilância em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), esclarece que “o fungo vive no meio ambiente, sobretudo em madeira em decomposição. Ele também foi encontrado na poeira domiciliar e em viveiros de pássaros domésticos. Não adianta eliminar o pombo, pois o fungo continuaria existindo. Há pessoas que desenvolvem a doença e outras não, ainda estamos estudando isso. Inalamos fungos o tempo inteiro”.

Mas, há ainda quem diga que os pombos são os maiores transmissores. A coordenadora de Infectologia da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, Eliana Bicudo, afirma que as fezes desses animais são o principal fator de risco e alerta para a necessidade de controle da população dessas aves, principalmente nos centros urbanos.

Então, o que fazer com os pombos? – Apesar da ameaça à saúde, eliminar os pombos não é a melhor solução e, inclusive, é crime. O artigo 32 da Lei 9.605, que trata sobre os crimes ambientais, diz que:

Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

§ 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.

§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.

O ideal é tomar atitudes que afastem a presença dos pombos, tais como jamais alimentá-los e deixar o lixo sempre bem fechado. Outra opção é contratar empresas de dedetização, que não eliminam a ave, mas aplicam inseticidas contra o piolho, recolhem ovos e ninhos e aplicam repelente que afastam os animais.

Porém, uma saída mais econômica é acionar a Vigilância Ambiental do seu estado, que não faz captura nem eliminação de pombos, mas realiza uma inspeção no local para identificar o foco e orienta a população sobre as medidas a serem adotadas para reduzir o problema.

Com informações da Fiocruz e do Correio Braziliense

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