Vila de pescadores | Prontos para a pesca | Sinuosidade | Porto seguro | Pintura para os olhos | Patrimônio cultural | Mexilhões aos montes |
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Imagem repousante | Fartura e qualidade | Igreja Chilote | Interior em madeira | Mercado de Chonchi | Moradias especiais | Estradas encantadoras |
Espetáculo | Especiária local | Em telhas de alerce | Em telhas de alerce II | Difícil escolha | Contemplação | Caranguejos chilenos |
Compra de souvenir | Belo por do sol | Cachorro ousado | A espera do sentollas | Enfim o sentollas | Belíssima natureza | Capilla de San Pedro |
A incógnita CHILOÉ
(parte II)
Euvaldo Pinho/TS*
Ed. 86 Mar 2018
Continuando o relato da minha experiência de vida em Chiloé, quero compartilhar com vocês que na ilha existem 286 tipos de batata nativos com cores e formatos diversos das quais os chilotes se utilizam para substituir o pão, visto que por lá a farinha de trigo é bem mais cara. Quase tudo que é consumido por eles leva batata. E como tal, para evitar mais delongas, informo e recomendo que no arquipélago seja dada preferência à ingestão de pescados e mariscos acompanhados de todo tipo de batata, cada uma delas adequada a cada peixe. Bom, barato e saudável!
Quero lembrar que em termos de mar e derivados sou bem vivido, daí digo com muito conhecimento de causa que nunca vivenciei tanto marisco e pescado de alta qualidade como no Chile, mais especificamente no arquipélago de Chiloé. Como nos alimentamos com qualidade! Além dos pescados, com destaque para os salmões, vimos várias fazendas de cultivo de todo o tipo de marisco. Realmente, os chilotes são um exemplo a ser seguido nas plantações, nas criações de ovelhas, na aquicultura e na pescaria, pois propiciam uma subsistência sadia e uma excelente fonte de renda com a exportação. Os salmonídeos (trutas arco-íris), os salmões do Atlântico (Salmo Salar), o do Pacifico (O. kisutch) e o selvagem (Chinook) são um exemplo do que se produz por lá.
Apesar de sabermos que não estávamos em nenhum grande centro, estupefatos ficamos com a limpeza e a higiene dos mercados, a exemplo dos famosos e perigosos ouriços, dos quais é retirado todo o conteúdo comestível, o que por nossas bandas não temos a tradição de consumir, mas que é muito salutar. Por nossas terras somente alguns raros pescadores quebram seus espinhos, partem sua carapaça ao meio e se deliciam com o conteúdo, cru. Já em Chiloé não vi ninguém comendo caranguejos como no nordeste brasileiro. Por lá os enormes "sentollas" são apreciados como fina e cara iguaria.
Ainda encontramos muita derivação da cultura dos índios Mapuches, seus primeiros habitantes que deram o nome de Chiloé à ilha, que quer dizer "lugar das gaivotas" em virtude da grande quantidade delas no arquipélago. Vimos, também, pelicanos em muitos bandos, inclusive numa disputa com os lobos marinhos por vísceras de peixes que estavam sendo tratados no porto. Que coragem desproporcional ao tamanho (risos)!
De rara beleza são as construções das casas e igrejas de madeira com telhas de alerce, madeira resistente e elástica, onde cada família tinha o seu desenho personalizado. Quanto mais rebuscado maior importância tinha a família. Explico: as telhas compunham as paredes das construções e não os telhados, realmente é um trabalho belo e diferente, para não dizermos exótico.
Encontrei por lá muitos momentos propícios às minhas fotos, tipo pôr do sol com chuva e mau tempo, muitas vezes por sobre as águas (a meu ver são as melhores), os cumes nevados das montanhas ao longe, as casas por demais coloridas. Nesse caso, não descobri se é cultural, se é como na Grécia, onde há um incentivo do governo para tal, ou se é o gosto popular pela profusão de cores. Mas que fica "10", isso fica.
Algo que me leva a gostar de transitar pelas estradas e localidades do Chile é a seriedade com que os cidadãos respeitam suas leis, com que a polícia nos trata, enfim com a segurança que nos passa em seu território. E nem pensar em tentar usar aquele jeitinho brasileiro, muito menos a propina.
Navegar por suas águas também é bastante seguro, por serem, em sua maioria, abrigadas tanto para os grandes ferryboats quanto para barcos menores lotados que fazem o trânsito entre as ilhas do arquipélago. Um dia quero visitar algumas daquelas ilhas, onde deveremos encontrar bem mais conteúdo da cultura mapuche enraizada e irmanada com a atual.
Sem nenhum cunho religioso, se Deus existe, e para mim Ele existe, creio que tudo isso ocorre como meio de compensação por estar o Chile sujeito a tantas catástrofes da natureza. Deus, entretanto, presenteou aquele povo com tamanha abundância e com beleza natural e cultural!
*Euvaldo Pinho é servidor aposentado da JFBA e colaborador da revista
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