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PRAZER, PARIS

Nosso viajante Euvaldo Pinho conta que relutou em conhecer Paris – cidade que passou a admirar apenas depois da primeira viagem à cidade-luz

Euvaldo Pinho*/CB
Ed. 107 Mar 2020

Velejei pela França anos atrás e conheci alguns lugares deslumbrantes, quase todos banhados pelo Mediterrâneo. Até então, nunca tinha sido minha prioridade visitar sua capital, Paris - não sei ao certo qual o motivo do meu desinteresse. Talvez a suposta arrogância de seus habitantes, os maus-tratos relatados por visitantes (apesar de que, assim mesmo, Paris seja visitada por mais ou menos 30 milhões de turistas que por lá circulam ao ano). Este detalhe peculiar – falta de interesse em conhecer Paris, compartilhada pelo meu filho, talvez faça deste relato algo único dentre os milhões dos redigidos para registrar viagens àquela cidade. Porém, quase seis anos depois de ter navegado por sua costa estendendo-me até Avignon, Provence e Carcassone fomos movidos pelo desejo das mulheres de nossas vidas, que são atraídas e fascinadas por Paris, e desembarcamos das asas da Air France como guias, acompanhantes, tradutores... Aqui seguem as boas e/ou más lembranças do que encontramos por lá!
 

Paris é dispendiosa, comparando-a com outras cidades da Europa, como Viena, por exemplo. A lógica disso é econômica, obviamente: alta procura eleva preços, mas não apenas isso, reduz a qualidade da hospedagem proporcionada ao cliente. É claro que se a pessoa for rica, sua experiência será maravilhosa – embora a nossa também tenha sido. Tudo é o ponto de vista de cada um... Escrevo isso porque é muito importante deixar claro que uma coisa é tirar uma selfie na frente da vitrine Chanel e outra coisa é poder entrar na Chanel, Dior ou similar e tirar selfies depois de ter ​comprado e vestido as "pechinchas"  vendidas por lá.

Paris é o epicentro global do luxo e requinte em moda, acessórios, perfumaria e gastronomia. A ostentação regada a champanhe é o padrão de lá e sucesso comercial. Porém, todo esse luxo não faz parte do nosso mundo, e isso não atrapalhou em nada nossa estada e objetivo. Ficamos em um hotel três estrelas (teoricamente), de duas estrelas (na prática) - sem café da manhã -. No elevador do hotel cabiam apenas três pessoas. O lado positivo foi a localização da hospedagem.

Comemos em restaurantes de bairro, fomos ao supermercado várias vezes, compramos frutas, sucos, vinhos, queijos, brioches: um excelente estoque alimentício que era diariamente degustado nos horários do lanche. Saber dar valor ao meu dinheiro? Não sei. Quando viajo, prefiro pensar e gastar o que tenho no bolso e esqueço os cartões de crédito. Mas atesto para vocês que não ficou nem um pouco aquela sensação de infortúnio por não termos jantado em restaurantes estrelados do guia Michelin, de famosos chefs de cuisine.

Cada país com suas características, e que lugar melhor do que um supermercado para conhecê-las? No Monoprix, por exemplo, nós nos deliciamos em uma sessão imensa de queijos frescos, refrigerados, e de cada lugarzinho da França. Compramos e comemos queijos de Auvergne, dos Pirineus, de cabra, emental e muitos mais.

Tudo na França tem indicação de procedência e aquela sensação de ser feito de acordo com algum jeito secreto que os monges desenvolveram há séculos. É fantástico e delicioso. Tradição, cuidado, identidade. A manteiga não é apenas uma manteiga, é a da região da manteiga (Bretagne). E esse produto não leva sal, mas flor de sal marinho. E não é marketing não, é realmente muito saborosa. Com um brioche trançado, no quarto, mesmo com o café instantâneo da chaleira elétrica, que cada quarto de hotel europeu oferece aos hóspedes, era "la gloire". E ainda trouxemos nas malas um pouco de cada item degustado.

Detalhar mais sobre a culinária francesa não ouso, não me sinto capaz, mas quero ressaltar que dessa vez dois deliciosos pratos se destacaram para nós, o verdadeiro Bouef bourguignon e o Camembert rôti au four, tendo em vista as ervas neles agregadas e demais complementos, como vocês podem observar nas fotos.

VINHOS E MODA

As temperaturas estavam baixas, e afirmo que todo e qualquer lugar no frio e bem agasalhado é bem mais glamoroso: o bonito vira lindo! E Paris não foge à regra, ficando mais bela ainda quando sorvemos um delicioso vinho "amarelo" francês, é óbvio, só existente na região leste do país, Château-Chalon, entre a cidade de Borgonha (França) e a Suíça. Que, com o seu sabor mineral dos vinhos oxidados, se destaca dos demais, sendo extremamente seco e que lembra frutas secas. Destaco os dois melhores vinhos encontrados e ingeridos por nós, Louise d'Aure, vinho branco doce da região do Madiran, e Château Arnauton, vinho tinto seco da região de Fronsac, escolhidos pelo Euvaldo Junior, nosso guia enófilo.

Outra característica encontrada por lá foi similar à encontrada até em Porto Seguro, na Bahia, quando, no verão,  lançam algo diferente como um lenço amarrado em alguma parte do corpo, um biquini, uma cor, uma dança... Principalmente as mulheres ousam mais nas criações das indumentárias, lançando novidades que realmente se destacam no mundo, sendo copiadas. O francês é bem mais audacioso, ele se expõe mais, modifica a moda – porém, com uma elegância impecável.

Saliento que o meu olhar congelador de imagens prima por ser atraído por detalhes, tipo flores, imagens religiosas, coisas antigas, vestuários, vitrines, pratos bem elaborados... Eu acredito que vocês já tenham percebido isso. Portanto, com a aquiescência de vocês, exibirei algumas delas. Passeando por Montmartre, encontrei em uma galeria de arte uma obra de releitura da Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, cujo objetivo do artista foi distorcer e desfocar a tão conhecida obra, criando um interessante impacto, o que chamou muito a minha atenção (veja galeria de fotos).

Faço questão de lembrar que tudo aqui relatado é tão simplesmente a minha humilde opinião, de uma pessoa que faz mais questão de “ser” do que “ter”; afinal, o que vi e conheci Por Aí me fez ficar bem atento ao fato de que no planeta existem dois mundos bem distintos - o dos que realmente têm e não dão valor, e o dos que não têm, admiram e seguem vivendo com o que possuem e felizes da vida. Permitam-me uma observação final: a relutância que eu tinha antes em conhecer Paris foi substituída pela admiração e prazer em conhecê-la agora. Tudo tem o seu tempo!

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