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O Brasil que desconhecemos

Parte da Selva Amazônica é desbravada em um 4 x 4 por um grupo de aventureiros que relatam essa incrível experiência

Euvaldo Pinho*/CB
Ed. 99 Mai 2019

Peço permissão a vocês, meus leitores, para relatar a mais nova aventura de que participei num 4x4 pela Floresta Amazônica e pela BR-230, a famosa Transamazônica. A expedição ocorreu em abril de 2019. O que será que move a nós, reles mortais, a embrenharmo-nos em uma monstruosa e fantástica selva sem saber onde e como dormiremos, se iremos conseguir superar os obstáculos, como falta de água, lama, árvores caídas etc... Tudo isso além de tentar evitar o contato com os mosquitos transmissores da febre amarela e com animais perigosos como cobras, onças, jacarés. Enfim, acredito que o que nos transporta a tais lugares é o vício pela adrenalina, pelo desconhecido e uma busca incessante pela EMOÇÃO.

Nós partimos de Porto Velho, eu e mais nove aventureiros, em cinco veículos "off road", muito bem equipados, para “o que viesse a acontecer” mais uma vez em busca de aventura, do inusitado e de novos contatos humanos. Nossa tripulação era composta de  advogado, empresário, médico, mecânico, servidor público aposentado, dentre outros. Todos nós sedentos de conhecimento pelo nosso vasto e riquíssimo País com suas características peculiares.

Se pontos negativos existem - e como existem! - vamos olhar o outro lado da moeda, os positivos. Continuo pensando que uma vida sem emoção não é vida. Portanto, na nossa Selva Amazônica o que não nos falta é desafio e, aqui para nós, a sensação é indescritível: com auxílio de motosserra liberar caminhos interrompidos devido a um tronco de árvore caído; à noite, transpor uma ponte submersa que para não cair dela era delimitado pelos próprios companheiros para, então, sabermos exatamente onde teríamos que colocar os pneus especiais utilizados em nossas viaturas e procurar um terreno seco onde pudéssemos armar o acampamento com redes e barracas para dormirmos, e isso contando com a proteção de fogueiras.

Nós, dez baianos "arretados", ao som de rugidos das onças e de chiados dos macacos "bugios", descansávamos um pouco para no dia seguinte testemunharmos pelas pegadas ali encontradas que realmente fomos espreitados durante a noite.

Outra tarefa a desempenhar era mantermos o contato com as comunidades locais, aprendendo com eles como viver, e sobreviver, naquelas condições precárias de necessidade e de higiene. Por exemplo: comer com os nativos a caça requentada ou meramente um arroz com feijão e ovo, delícia! Dormir na tábua de um banco ou em redes com telas contra mosquitos era difícil, porém o cansaço nos dominava. A maioria das construções, se assim podemos chamá-las, são erguidas sobre palafitas. Foi gostoso o contato simples e "matuto" com os verdadeiros guerreiros que por lá sobrevivem.

Conviver pacificamente com o número absurdo de madeireiros clandestinos, que agem na calada da noite, é impossível. Medo e incapacidade de enfrentá-los é uma realidade. Cada tora imensa de madeira nobre levada sorrateiramente para as madeireiras para ser cortada e, com documentação falsa, negociada e transportada pelas estradas da Floresta Amazônica e pelos seus rios, belos e colossais é um grande sofrimento. Acreditem, dói muito aquela constatação criminosa sem a gente poder fazer nada!!

Navegamos o trecho Manicoré-Novo Aripuanã  no navio Raimundo Coimbra, embarcação de R$18 milhões, que, desprovida de luxo, transporta desde passageiros em redes (costume local) a veículos, cargas, etc... O barco em que viajamos levava uma carga gigantesca de bananas. A balsa - é assim que chamam a embarcação - tem umas quinze cabines e um restaurante. Éramos a atração a bordo com nossas viaturas enlameadas e corpos cansados fazendo a manutenção dos 4x4 para vencermos os próximos desafios.

Não sei se é péssima ou não a situação daqueles moradores, ou melhor, dos sobreviventes da região. O que sei que aquele é, meramente, o dia a dia deles. Quando ali chegamos, foi uma alegria mútua e uma curiosidade recíproca. Eles nos forneceram o de que dispunham a preços ínfimos para nós. Para o descanso, a fim de que evitássemos dormir no chão, os moradores nos ofereceram pontos para  fixarmos nossas redes ou bancos de madeira que usamos para nos assentar enquanto nos alimentávamos. Banho, muitas vezes não tomávamos; tínhamos só um pouco de água numa cuia para lavar o rosto e, quando muito, usávamos no resto do corpo lenços umedecidos que levamos a bordo.

De quando em vez encontrávamos estrangeiros. Um caso desses foi o de dois irmãos holandeses aventureiros que ficamos conhecendo. O caçula deles tinha pegado malária... Eles tinham ficado atolados e foram em busca de ajuda. Nós os desatolamos, e eles puderam seguir sua aventura e nós, a nossa... Outra vez, à noite, encontramos um ônibus intermunicipal que estava atolado desde a manhã daquele dia. Nós fizemos um trenzinho com três dos nossos 4x4, e com a ajuda das nossas cintas conseguimos retirar o grande veiculo daquela enrascada.

Vocês já viram ônibus com guincho? Pois é, os ônibus de lá têm que ter guincho! Os motoristas fincam umas barras de ferro bem na frente onde atrelam seus cabos de aço para puxarem outro carro. Quando não conseguem sair do atoleiro, os condutores nada podem fazer a não ser esperar a providência divina com paciência. Ali eles comem o que têm, dormem sentados...

Nossa viagem foi de 17 dias de aventura que terminou no mesmo lugar da partida, Porto Velho/RO.

 

Até o próximo Por Aí!

*Euvaldo Pinho é servidor aposentado da JFBA e colaborador da revista

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