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Natal e Réveillon em Paris com crianças e greves partout!*

Nosso colaborador Euvaldo Pinho, servidor aposentado da Justiça Federal da Bahia, revela a emoção de passar as festas de fim de ano na Cidade-Luz

Euvaldo Pinho*/CB
Ed. 105 Dez 2019/Jan 2020

*partout! – por toda a parte!

Alguns lugares deste mundo conseguem habitar endereço único nas mentes das pessoas. Esses locais perdem o senso da realidade, estão soltos das amarras que prendem outros espaços ao chão das rotinas do dia a dia, aos impostos e a todas as coisas frias e mundanas a que assistimos todos os dias, seja onde moramos ou trabalhamos.

Territórios habitados ao longo de séculos como cenários de tantas estórias de ficção ou como pano de fundo da própria história humana e que se encravam no imaginário coletivo, muitas vezes até mesmo naqueles locais que jamais tivemos qualquer oportunidade de ler ou de aprender sobre eles, porque seus nomes - mesmo nada mais que nomes de tais lugares - têm poder, revestem-se de significados. Lugares como Londres, Roma, Atenas e Paris.


Foi atrás dessa cidade mítica – Paris – que partimos. Éramos 4 adultos (dois  na faixa dos 40 anos, dois na dos 70 e duas crianças de 7 anos) em meio à incerteza causada pela crise das manifestações sociais decorrentes da reforma da previdência que o governo francês tenta aprovar desde 2019.

Levantar voo em 24 de dezembro, cruzar os céus no Boeing 777 tentando achar o trenó que ziguezagueia pelo planeta e ao mesmo tempo faz delivery de recompensas aos de bons comportamentos...

Pousamos no gigantesco Aeroporto Charles de Gaulle ao meio-dia de 25 de dezembro encarando a cidade fechada em razão do feriado e da greve dos transportes públicos...

Viagens caras, como sempre, devem ser compradas com bastante antecedência para baratear os custos e, assim, ficam sujeitas às intempéries da vida, seus imprevistos.

Cancelar, só em último caso para não perder em passagens e reservas de hotéis, que não reembolsam quase nada. Os ricos decidem de última hora, viajam em classe executiva e pagam em cash. Nós, não!

Sem opção para sair do aeroporto via trem - sempre meu modo preferido - para chegar ao centro da cidade, tivemos de reservar um transfer particular com medo de que o motorista tenha encontrado uma proposta melhor e acabasse nos deixando na mão.

Felizmente, na saída da área de coleta da bagagem, lá estava ele com meu nome escrito num tablet. O motorista era um imigrante indiano – o que trouxe à tona a questão da imigração na Europa.

Em seguida, nós nos alimentamos em um bistrô/café/brasserie/bar chamado L´Atlantique, que ficava a uns 100 metros do hotel, e depois descansamos da viagem.

 

PARIS A PÉ E DE METRÔ

No dia seguinte, partimos caminhando para dar início à missão impossível de conseguir visitar o máximo de atrações parisienses em nove dias. Sim, caminhando mesmo, porque o único método de conhecer realmente alguma cidade é caminhar por suas ruas. Ainda assim, pegamos metrô também, mesmo com o devido cuidado, pois das 14 linhas do metrô só duas estavam funcionando. Mas, graças ao bom Deus, nada nos aconteceu, inclusive todo o comércio estava funcionando, e – surpresa - com as catracas livres que os grevistas abriram aos usuários!!!

Caminhando pequenas distâncias, rapidamente conseguimos alcançar a Igreja de la Madeleine, Prace de la Concorde, Jardim de Tuileries, Palais Garnier, Galerias Lafayette, Montmartre e o Moulin Rouge, por exemplo.

Nosso hotel ficava no centro, ao lado da estação de trem St. Lazare, próximo a inúmeros pontos turísticos, era um prédio antigo adaptado com cômodos apertados, porém muito conveniente dada a sua localização bem centralizada e perto de tudo na "rive droite" (margem direita) - como chamam a parte da cidade que fica ao norte, tendo o Rio Sena como divisor.

Como primeiro passeio, fomos até a Place de la Concorde com o objetivo de levar as crianças para o parque de diversões no Jardin des Tuileries, que foi o primeiro jardim público de Paris. Mas, antes de alcançarmos o nosso objetivo, nós nos deparamos com o Obelisco de Luxor - uma obra milenar egípcia de 23 metros de altura oferecida pelo governo egípcio ao povo francês em 1833. A curiosidade fica por conta do local onde foi colocado o obelisco - era o mesmo onde estava a guilhotina que decapitou Maria Antonieta na Revolução Francesa. Aliás, por isso o nome "concórdia" batiza esta praça (concórdia, paz, harmonia, para lavar tanto sangue derramado, para tentar inaugurar uma nova era).

Em outro dia, fomos à Catedral de Notre-Dame, onde ficamos chocados com o que restou da catedral gótica mais famosa do mundo após o incêndio devastador ocorrido em abril de 2019. A restauração desse marco de Paris está planejada para o ano de 2021 e deverá durar três anos de intenso trabalho.

Da Notre-Dame avistamos o Rio Sena, que é o centro de vida dos parisienses. Passeamos por suas margens e navegamos pelos bateaux-mouches  enquanto lanchávamos, foi prazeroso e tranquilizador!

Não posso deixar de falar das pontes do rio que interligam as vias criando uma imagem romântica peculiar. Destaco a Ponte dos Cadeados (Pont des arts), mesmo que a maioria dos tais cadeados tenha sido removida desde 2015 para se evitar dano à estrutura da ponte. 

De lá, demos mais uma pequena caminhada até o mais famoso museu do mundo. Ao chegarmos ao Louvre, nós nos surpreendemos com o tamanho da edificação. Construído inicialmente em 1190 - e, na época, utilizado como fortaleza contra os ataques vikings. O Museu do Louvre é também o maior museu de arte do mundo. No local, foi possível visitar obras famosas, como Monalisa, Vênus de Milo e outras.

Juntando o útil ao agradável, compramos passes de um dia para fazer os circuitos panorâmicos nos famosos ônibus HOP-ON//HOP-OFF. O ônibus foi percorrendo Paris lentamente enquanto nós, no andar superior, sofríamos alegremente devido aos cinco graus daquele belo dia ensolarado de inverno francês. Chegando perto da famosa torre, tivemos de descer para vê-la de perto e – quem sabe – talvez até subir nela.

A nossa Diana, com apenas sete aninhos, sempre teve fascinação pela Torre Eiffel e ao avistá-la de perto ela ficou em êxtase. Localizada no Champ de Mars, a torre é o edifício mais alto da cidade e um dos monumentos mais visitados do mundo. É o símbolo da França e marco da engenharia do país.

UM BRINDE AO ANO NOVO

Escolhemos fazer a maioria das refeições em restaurantes italianos por facilitar a comida das crianças com as velhas e conhecidas massas e de vez em quando as francesas, com suas comidas clássicas e bem aromatizadas. Não poderíamos perder os tão famosos cafés parisienses, locais tão diferentes dos de outros lugares, principalmente pelo estranhíssimo hábito de sentar-se de frente para o asfalto como se o passar de um lado para o outro das pessoas e carros fosse algum espetáculo que devesse ser assistido e saboreado juntamente com cafés, vinhos e licores.

Além disso, é quase obrigatório saborear num bistrô típico de Montmartre uma sopa de cebola gratinada, "Gratinée à L'oignon", receita de 1862. Degustar essa sopa era uma prioridade máxima, já que nossa nora, Ana Paula, queria experimentá-la de todo o jeito dada à fama dessa guloseima. É uma das regiões mais bucólicas e agradáveis da cidade por causa de suas ruazinhas arborizadas, pintores de rua, cafés e bistrôs. Sem contar que Montmartre, como fica no alto de uma colina, oferece uma das mais lindas vistas da cidade.

Em Montmartre também está a famosa e majestosa Basílica de Sacré-Coeur, uma construção religiosa belíssima, a mais bonita de Paris em nossa unânime opinião. Fomos surpreendidos pelo piquenique planejado por Junior nas escadarias em frente à Sacré-Coeur, onde um número imenso de turistas disputava um pequeno espaço para apreciar a vista e o pôr do sol.

Nosso deslumbramento natalino foi no interior da Galeries Lafayette. O clássico dos clássicos de Paris, maior loja de departamentos da França e que comercializa as melhores marcas de vestuário, aberta desde 1895, cujo destaque foi uma árvore de natal gigantesca no tamanho equivalente a dez andares, algo realmente espetacular.

Já o nosso Reveillon foi na Champs Élysées ricamente iluminada, fazendo jus à alcunha de Paris – Cidade-Luz. Simplesmente algo INDESCRITÍVEL!!! Fomos revistados por detectores de metal minuciosamente, pois ninguém poderia estar ali portando vidro e nem guarda-chuva. Então, adeus Champagne JM Gobillard & Fils!  O brinde foi a seco - pelo menos até a volta ao hotel. 

Enfim, uma cidade que tem uma riqueza incontável como aquela não é para ser desfrutada em nove dias - nem em 90! É para incontáveis jornadas, para se deixar escorrer como água em cada fresta, cada pequenino segredo gravado em pedra, parede e jardim até o dia longínquo em que a gente não seja apenas mais um dos incontáveis turistas a perambular deslumbrado, de cartão postal em cartão postal - e poder dizer a si mesmo orgulhosamente: "Eu conheço Paris".


Hoje fiquei mais poético, notaram? Mas essa é a consequência ao retornar da Cidade-Luz!

O passado mora aqui.jpg
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