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DESVENDANDO O MITO 

Uma aventura na Ilha de Guadalupe, no México, para ficar frente a frente com os grandes tubarões brancos

Euvaldo Pinho*/CB
Ed. 102 Ago/Set 2019

Enfim realizei o sonho de mergulhar com eles, vivenciá-los em seu habitat, curtir perigosamente aqueles gigantes... Estou me referindo aos grandes tubarões brancos (GTBs).

Após uma extensa e cansativa viagem de 36 horas entre aviões, carros e barco, eu e mais cinco mergulhadores brasileiros, da Captain Dive, a bordo do "Belle Amie", juntamente com alguns mergulhadores, russos, romenos, americanos etc, chegamos à Ilha de Guadalupe, no México, no mês de agosto de 2019. Ali, protegidos por uma gaiola de aço durante as imersões, participamos e assistimos a um grande espetáculo que passo a compartilhar com vocês neste momento...

Não pretendo cansar vocês, meus leitores, com a minha tese de defesa e tentar convencê-los que ingressem no meu time da "Causa Pro-Tuba", mas faço questão de lembrar-lhes fatos que com certeza os farão pensar duas vezes. Por exemplo: garanto que nunca ouviram um relato de que um tubarão tenha comido um ser humano (é claro, não fazemos parte do cardápio deles), mas que no máximo tenha mordido alguém. Na verdade, o tubarão não ataca, ele se defende. Pelo pouco que sei, mas continuo aprendendo, ele só se DEFENDE quando está faminto em busca de comida, quando se sente ameaçado, quando acuado em águas turvas ou em defesa de suas crias.


Da cidade de Ensenada, no México, zarpamos no pequeno navio "Live Aboard", construído especificamente para mergulhos. Em dezoito horas, alcançamos a Ilha de Guadalupe, onde imediatamente começou a  faina da tripulação em colocar as cinco gaiolas na água, nas quais mergulharíamos nos quatro dias subsequentes, com quantidade ilimitada de mergulhos.

Cinco gaiolas. Duas ficavam fixas na superfície e comportavam até quatro mergulhadores. As outras três ficavam submersas até dez metros de profundidade, com três mergulhadores e um "Dive Master" (experiente e treinado mergulhador do navio, apto a resolver qualquer problema que, porventura, acontecesse lá em baixo). Tudo isso em águas  muito frias, de onde capturamos as imagens que apresento a vocês daqueles colossais animais tão erroneamente denominados de assassinos e de predadores do ser humano, quando, na verdade, são seres vivos em busca de sobrevivência. Nós é que somos seus predadores - o inverso total dessa crença...

Sensações incríveis e difíceis de explicar contribuíam para aumentar a nossa ansiedade, coisas do tipo: como reagiríamos à  curiosidade deles? Como sabemos, o tubarão branco é um animal poderoso que só tem como predador outro grande tubarão branco e a Orca, também conhecida como “Baleia Assassina”. Portanto nós, os invasores do seu território, é que somos estranhos. 

Os tubarões identificam pelo olfato que não fazemos parte da sua cadeia alimentar, porém são atiçados pela curiosidade e a todo o momento eles nos olham dispostos a identificar se oferecemos perigo. Dentro de uma super gaiola de aço inox despertamos a atenção dos GTBs... Levávamos a bordo do "Belle Amie" uma grande carga de pedaços de atuns congelados, que foram amarrados e lançados ao mar com o intuito de atraí-los, e, de vez em quando, alimentá-los também. Quando eles se aproximavam da "isca",  o atum era puxado por um tripulante do navio e  os tubarões tranquilamente tentavam abocanhar a presa em total frenesi,  proporcionando um espetáculo inigualável para nós espectadores, ansiosos para conhecermos métodos e táticas usadas pelos tubarões em busca de alimentação.

Em um dos nossos mergulhos detectamos um fato que já tínhamos conhecimento, porém nunca o tínhamos vivenciado. O tubarão ao atacar a sua presa por instinto de autoproteção cobre seus olhos com uma membrana “nictante” (a terceira pálpebra), que recobre os olhos do animal enquanto ele ataca para protegê-los de possíveis riscos durante a ação. Um dos tubarões brancos, ao atacar um pedaço de atum que lhe oferecíamos, projetou-se diretamente para cima de uma das nossas gaiolas. Ele aparentava estar nos atacando, mas, ao abocanhar o pedaço de atum ficou cego temporariamente, indo ao encontro da gaiola que estava em seu rumo. Esbarrando nela, o tubarão nos assustou e deve ter se assustado também, seguindo em busca de um novo ataque à presa sem nos incomodar. Foi fantástico!!! 

O GTB tem três mil dentes triangulares, serrilhados e muito afiados com até 7,5 cm de altura, inseridos nas maxilas em fileiras e um pouco inclinados para dentro. Esse fantástico conjunto pode exercer a força de três toneladas por centímetro quadrado em uma mordida. É capaz de nadar a uma velocidade de até 25 km por hora, tem excelente visão e no escuro enxerga melhor e mais nitidamente do que um gato. Um benefício que ele traz aos nossos oceanos é fazer com que esses mares permaneçam limpos, pois os tubarões se alimentam também de animais enfraquecidos ou doentes.  Alcançam até 6 metros de comprimento. Realmente, Deus caprichou nesses espécimes! A realidade nos mostra que é impossível escapar do ataque de qualquer tipo de tubarão quando ele está no seu habitat, principalmente pela facilidade com que promove as táticas de "abordagem", utilizando a força da mandíbula e os dentes perfurantes.

Concluo afirmando que infelizmente não devemos nos arriscar a conviver com eles em águas sujas, não piscosas, nem em locais de procriação. Detalhe, ao avistar um tubarão, nunca fixe o seu olhar nos olhos dele para não causar a sensação de enfrentamento, fazendo com que o tubarão, em defesa própria, ataque você.

Seguimos Por Aí, em busca de novas emoções... 

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