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Conhecimentos milenares e pandemia
Práticas Integrativas e Complementares (PICs) são recomendadas e incentivadas por autoridades de saúde durante a pandemia da Covid-19 para promover bem-estar físico e mental
Larissa Santos | Ed. 111 Jul 2020
Noventa mil: esse foi o número de brasileiros que morreram por Covid-19 de 14 de março a 29 de julho de 2020, segundo o consórcio de veículos de imprensa¹ com base nas informações das secretarias estaduais de saúde. Em 24 horas, foram confirmadas mais de 70,8 mil novas infecções pelo vírus e 1,5 mil mortes.
Diante de um avanço tão rápido da doença, além de adotarem medidas preventivas e de incorporarem o “novo normal” às rotinas, as pessoas têm de superar outro desafio: as consequências psicológicas provocadas pelo isolamento social.
Estresse, distúrbios emocionais e de humor, depressão, irritabilidade, insônia e transtorno de estresse pós-traumático são alguns dos efeitos psicológicos causados por longos períodos de isolamento, conforme aponta um estudo publicado na Revista The Lancet em março de 2020, com a revisão de mais de três mil artigos científicos sobre o assunto.
“As consequências do isolamento prolongado estão sendo sentidas individual e coletivamente. Estamos mais ansiosos, temerosos, tristes e questionando nossos relacionamentos. Aumentou, inclusive, o número de pessoas buscando apoio de psicólogos e psiquiatras”, afirmou a psicóloga Daniella Meira, supervisora da Seção de Psicologia (Sepsi) do Tribunal Regional Federal da 1ª Região.
Nesse sentido, a fim de prevenir doenças e promover o bem-estar físico e mental da população brasileira, principalmente neste momento de pandemia, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) emitiu, em 21 de maio, a Recomendação nº 41, que sugere ao Ministério da Saúde e aos conselhos estaduais e municipais de saúde o fomento e a divulgação de informações sobre o uso adequado das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, as chamadas PICs.
Sobre as PICs
As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde são, de acordo com o Ministério da Saúde, tratamentos que utilizam recursos terapêuticos baseados em conhecimentos tradicionais, voltados à prevenção de várias doenças.
Tais práticas são reconhecidas e estimuladas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) desde a década de 70, mesmo período em que começaram a ser debatidas no Brasil, que incorporou, em 2006, as PICs ao Sistema Único de Saúde (SUS) por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC).
A PNPIC surgiu para atender à necessidade de se conhecer, apoiar, incorporar e implementar experiências no âmbito da medicina tradicional chinesa/acupuntura, da homeopatia, da fitoterapia, da medicina antroposófica e do termalismo/crenoterapia.
São 29 práticas incorporadas ao SUS e, consequentemente, oferecidas de forma gratuita e integral à população. Atualmente, segundo o Ministério da Saúde, mais de 9 mil estabelecimentos de saúde no Brasil oferecem práticas como: apiterapia; aromaterapia; arteterapia; ayurveda; biodança; bioenergética; constelação familiar; cromoterapia; dança circular; geoterapia; hipnoterapia; homeopatia; imposição de mãos; medicina antroposófica/antroposofia aplicada à saúde; medicina tradicional chinesa – acupuntura; meditação; musicoterapia; naturopatia; osteopatia; ozonioterapia; plantas medicinais – fitoterapia; quiropraxia; reflexoterapia; reiki; shantala; terapia comunitária integrativa; terapia de florais, termalismo social/crenoterapia e yoga.
Devido a essa abrangência de práticas, o Brasil se tornou referência mundial na área de PICs na atenção básica da rede pública, investindo tanto em prevenção e promoção à saúde quanto no tratamento e alívio dos sintomas causados por algumas doenças.
“É uma abordagem de cuidado que amplia o olhar do profissional convencional da medicina, aumentando as opções terapêuticas que o profissional de saúde pode ofertar durante o atendimento no SUS”, afirma o coordenador de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, Daniel Amado.
Benefícios
Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz), os benefícios das práticas envolvem o cuidado integral do corpo e da mente, colaborando com a promoção do autocuidado, a prevenção de doenças e agravos e a redução de sintomas físicos e mentais.
Nesse contexto, as PICs exercem importante papel tanto no tratamento de doenças já existentes, como obesidade, tabagismo e transtorno de ansiedade, quanto na prevenção delas a partir da promoção do bem-estar físico e mental.
Evelin Marreiro, de 25 anos, sabe bem disso. A estudante de Ciências Biológicas pratica yoga há quatro anos e afirma que a atividade proporcionou inúmeros benefícios físicos – como flexibilidade, energia, melhora na digestão, resistência física, postura e respiração – e emocionais – como autocontrole e redução da ansiedade e do estresse.
“Acredito que da mesma forma que a yoga traz benefícios ao corpo e à mente, ela tem o poder de prevenir doenças físicas e emocionais e ainda ajudar no tratamento delas, afinal, não é uma prática que proporciona apenas flexibilidade ao corpo, mas o trabalha como um todo, abrangendo a mente, os órgãos internos e a estrutura corporal”, diz a estudante.
Com tantas vantagens comprovadas, inclusive cientificamente, a utilização das práticas no âmbito do SUS vem aumentando a cada ano, de acordo com dados do Ministério da Saúde. Em atividades coletivas, como a yoga e o tai chi chuan, por exemplo, o crescimento entre 2017 e 2018 foi de 46%, passando de 216 mil para 315 mil praticantes.
PICs e pandemia
Durante a pandemia da Covid-19, os cuidados com a saúde por meio das técnicas se tornam ainda mais necessários. Em tempos de isolamento, as PICs podem ser aplicadas para melhoria da qualidade de vida, com resultados positivos no autocuidado e nos equilíbrios mental e emocional.
Segundo a FioCruz, no contexto de isolamento social provocado pela pandemia, as PICs são dirigidas a profissionais de saúde e à população em geral para cuidar do estado de grande sofrimento emocional e físico marcado pelo medo de adoecer e morrer, trabalho exaustivo e sob risco, perdas afetivas, luto, insegurança e empobrecimento.
Diante da importância das práticas nessa conjuntura, a internet tem sido uma grande ferramenta na promoção das PICs. Em março, quando se iniciaram as medidas de isolamento social, termos como yoga e meditação tiveram um aumento expressivo de procura em sites, atingindo o pico de interesse na semana de 22 a 28 de março, como mostram os gráficos abaixo.
Gráfico que demonstra o interesse ao longo do tempo por Yoga, com base em pesquisas. Fonte: Google Trends.
Gráfico que demonstra o interesse ao longo do tempo por Meditação, com base em pesquisas. Fonte: Google Trends.
Plataformas de vídeos e áudios se tornaram ponto de contato entre a promoção à saúde e a população. A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, por exemplo, lançou a campanha #FiqueEmCasaComPICS com vídeos e podcasts que orientam a realização de algumas práticas em casa, reforçando a necessidade do autocuidado e da prevenção de doenças por meio das técnicas milenares.
Clique nos links abaixo e comece a praticar agora mesmo.
Seja no SUS, seja em casa, o cuidado com a saúde deve vir sempre em primeiro lugar, e a prevenção é a melhor escolha para se alcançar a qualidade de vida. Cuide-se!
¹ Grupo formado pelos veículos de comunicação O Estado de São Paulo, Folha de São Paulo, O Globo, G1, UOL e Extra para coletar e divulgar informações referentes à pandemia da Covid-19.