Dezembro Vermelho:
pela vida e pela informação
Campanha quer conscientizar sobre HIV/Aids e infecções sexualmente transmissíveis. Você se mantém informado sobre elas?
Divulgação
Em meados de 1980, uma nova pandemia surgiu e assustou todo o mundo. Nos Estados Unidos, a nova e desconhecida doença passou a ser chamada de “câncer gay”. No Brasil, ficou conhecida como “peste gay”. O preconceito e a falta de informações concretas sobre a transmissão da nova moléstia levaram a um estado de pânico. Hoje, sabe-se que a doença que matou mais de 30 milhões de pessoas é causada por um retrovírus, o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). Trata-se da Aids, ou síndrome da imunodeficiência adquirida.
Apesar dos estudos promovidos a respeito do vírus HIV/Aids e das campanhas de conscientização para a prevenção da transmissão do vírus, segundo o último Boletim Epidemiológico da Aids, divulgado pelo Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das IST, do HIV/Aids e das Hepatites Virais (DIAHV) do Ministério da Saúde (MS), no ano de 2016, foram notificados 37.884 casos de infecção pelo HIV no Brasil.
Muito há que se fazer pela prevenção e proteção dos direitos humanos das pessoas vivendo com HIV. Por isso, o “Dezembro Vermelho” foi instituído pela Lei nº 13.504/2016, uma campanha nacional de prevenção ao HIV/Aids e outras infecções sexualmente transmissíveis.
Mas o que exatamente é a Aids e o HIV? Os dois são a mesma coisa? Esses termos ainda são motivo de confusão para algumas pessoas. A Aids é uma doença que ataca o sistema imunológico, conhecida também por “Síndrome da Imunodeficiência Adquirida” e é causada pelo vírus HIV. Esse vírus deixa o organismo mais vulnerável a infecções e doenças porque ataca as células de defesa do corpo. Por isso, uma pessoa pode possuir o vírus HIV e não ter Aids, pois os sintomas não se manifestam. Mas isso é possível somente com o tratamento apropriado para o controle do vírus. Depois de mais de três décadas de pesquisa, a Aids ainda não tem cura, mas os medicamentos antirretrovirais (ARV) surgiram para impedir a multiplicação do vírus no organismo.
Hoje, 64% das pessoas com HIV no Brasil recebem cobertura de tratamento antirretroviral (TARV). Em 2017, o Ministério da Saúde expandiu o tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS) para as pessoas que vivem com Aids e HIV, oferecendo acesso ao Dolutergravir, medicamento mais moderno e eficaz no tratamento do vírus e, ainda, exames gratuitos para detectar a resposta do organismo ao vírus.
Além da Aids, outras infecções sexualmente transmissíveis (IST) preocupam os órgãos responsáveis pela política de saúde no Brasil, como a sífilis. Segundo o último Boletim Epidemiológico da Sífilis de 2017, divulgado pelo DIAHV, o Brasil vive um período de aumento dos casos de sífilis nos últimos anos. O número de casos em adultos aumentou 27,9% em 2016, em comparação com o ano de 2015.
A sífilis é uma doença causada pela bactéria Treponema pallidum, e na maioria das vezes é transmitida por contato sexual. A doença se desenvolve em diferentes estágios, e os sintomas da sífilis se manifestam entre três e doze semanas após a infecção. O preocupante é que a sífilis pode ser um mal silencioso, pois após a infecção inicial a bactéria pode permanecer no corpo da pessoa por décadas e só depois se manifestar de maneira muito mais forte.
Durante a gestação, a sífilis é considerada ainda mais grave e traz grandes riscos para a mulher e para o bebê. Isso porque a bactéria causadora da doença pode ultrapassar a placenta e atingir o feto, podendo resultar em aborto e até mesmo na morte do bebê no nascimento. Já os bebês que sobrevivem e nascem com a sífilis congênita, isso é, adquirem a bactéria da mãe, podem ter malformações cerebrais, alterações ósseas e até cegueira. Por isso o cuidado tem que ser redobrado. “A notificação das gestantes com sífilis é obrigatória desde 2005, e a de sífilis congênita, desde 1986. Portanto, a melhoria da vigilância resultou num maior número de casos notificados”, informou o Ministério da Saúde.
Em nota, o DIAHV informou que o enfrentamento da sífilis no Brasil é uma ação prioritária do Ministério da Saúde. “A pasta incentiva a realização do pré-natal precoce, ainda no 1º trimestre da gestação; a ampliação do diagnóstico por meio de teste rápido; o tratamento oportuno para a gestante e seu parceiro; e o incentivo à administração de penicilina benzatina, considerada o único medicamento seguro e eficaz na prevenção da sífilis congênita. Também há ações permanentes de educação para qualificação de gestores e profissionais de saúde”, afirmou o DIAHV.
O MS também informou que tem estoque garantido de penicilina para atendimento aos pacientes do SUS diagnosticados com sífilis em todo o território nacional até o segundo semestre de 2018. “Além disso, o Ministério da Saúde tem incentivado as indústrias nacionais a produzirem a penicilina. [...] A ideia é tornar o Brasil independente do mercado internacional em itens fundamentais para a saúde pública. A previsão de investimento privado é R$ 6,4 bilhões na transferência de tecnologia para o Brasil avançar no setor, a partir das parcerias promovidas pelo Ministério da Saúde”.
A raiz do problema – Mas o que faz esses vírus e bactérias circularem e contaminarem tantas pessoas todos os anos? De acordo com a Pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas na População Brasileira realizada pelo DIAHV em 2013, 45% da população sexualmente ativa do País não havia usado preservativo nas relações sexuais casuais nos últimos 12 meses. A falta do uso da camisinha é um fator determinante para a propagação dessas doenças sexualmente transmissíveis. “Por isso, o Ministério da Saúde atua fortemente na recomendação do uso de preservativo nas relações sexuais, que evita todas as infecções sexualmente transmissíveis – inclusive a sífilis –, e a realização do teste para identificar se é portador da infecção, visto que a maioria dos casos em adultos é assintomática”. Para saber onde retirar as camisinhas é necessário ligar para o Disque Saúde (136).
Não tem jeito: o uso do preservativo nas relações sexuais é a melhor forma de prevenir a contaminação por essas IST’s. Até novembro de 2017 o MS distribuiu cerca de 465 milhões de preservativos, sendo 454,8 milhões de camisinhas masculinas e nove milhões de femininas, em todos os estados e capitais. Se usado corretamente, o preservativo feminino é um método seguro, apresentando uma taxa de 90%-95% de eficácia na prevenção da transmissão de DSTs. Estima-se que podem ocorrer 10 gravidezes em cada ano com 100 mulheres que usam o método. Já a camisinha masculina, usada de maneira correta tem uma taxa de eficácia de 98%.
A diferença entre o número de camisinhas masculinas e femininas é gritante. Isso acontece porque muitas pessoas não têm conhecimento de sobre como utilizar o preservativo para mulheres ou tratam o procedimento como tabu.
É importante saber que o preservativo feminino, além de ser um método de prevenção contra doenças sexualmente transmissíveis, é também alternativa anticoncepcional. É um dispositivo de prevenção que está sob o controle da mulher, porque é usado no seu corpo, e dá maior autonomia às mulheres em sua vida sexual. Além disso, é feito de polietileno, uma opção para quem tem alergia ou irritação ao látex, e é mais eficaz na hora de proteger contra IST’s, pois protege a parte externa da vagina também. O preservativo feminino pode ser usado durante o período menstrual, pois ele evita o contato com o fluxo menstrual durante a relação sexual, e é tão eficaz quanto o masculino. O MS distribui mais de 10 milhões de camisinhas femininas gratuitamente por ano, para toda a rede do SUS.
O DIAHV possui um vídeo demonstrativo em sua página da internet, onde é explicado como utilizar a camisinha feminina, disponível no link http://www.aids.gov.br/pt-br/video/preservativo-feminino-como-usar-0.
O MS também disponibiliza uma cartilha informativa na internet em que explica como utilizar o preservativo feminino: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/156camisinha_feminina.html
Joana Prates/TS | Ed. 84 Dez 2017/jan 2018
Aids
Causada pelo
Vírus da Imunodeficiência Humana – HIV
Sintomas
Ataque às células do sistema imunitário ocasionando imunodeficiência e infecções oportunistas.
882.810 casos de aids no Brasil foram registrados de 1980 a junho de 2017
37.884 casos de infecção pelo HIV foram notificados no ano de 2016
A maior concentração dos casos de aids no Brasil está nos indivíduos com idade entre 25 e 39 anos
Sífilis
Causada pela
Bactéria Treponema pallidum
Sintomas
Lesões nos órgãos genitais, na pele e nas mucosas. Pode afetar o sistema nervoso.
87.593 casos notificados no Brasil em 2016
200.253 casos de sífilis em gestantes no período de 2005 a junho de 2017
A maior parte das notificações de sífilis adquirida em 2016 ocorreu em indivíduos entre 20 e 29 anos
Narrativa gráfica conta a história de um homem que se apaixonou por uma mulher com HIV positivo
“Pílulas Azuis” é um romance gráfico e autobiográfico escrito e ilustrado por Frederik Peeters, um quadrinista suíço. A narrativa conta a história de sua relação com Cati, sua mulher, e com o filho dela, ambos portadores do vírus HIV. A graphic novel permite uma imersão em um cotidiano de uma relação afetada pelo HIV, a luta contra o preconceito, as dificuldades de aceitação e as dúvidas que permeiam o vírus pela falta de informação.
O romance faz várias reflexões sobre como o vírus pode afetar a vida emocional e sexual de um casal, os cuidados necessários com uma criança portadora de HIV, a culpa e os medos envolvidos no enfrentamento do vírus. O livro ganhou o Troféu HQ Mix de melhor edição especial estrangeira e foi adaptado para o cinema em 2014, em uma produção francesa intitulada “Pilules bleues”. Uma história informativa e real sobre o vírus que ajuda a acabar com preconceitos e estimula a humanidade.