top of page
Mente digital

ACEITAÇÃO E ADAPTAÇÃO

Nesta entrevista, a psicóloga do TRF1, Daniella Meira, tira dúvidas enviadas por servidores relacionadas à saúde emocional durante a pandemia. Acompanhe!

Ascom TRF1   |   Ed. 114 Out 2020

Um ano difícil que se aproxima do fim – e sem perspectiva de mudanças em curto prazo.

 

2020, marcado pela pandemia do novo coronavírus, causador da Covid-19, entrará para a história tanto pela doença em si, que já causou a morte de 159 mil pessoas no Brasil até 30 de outubro, quanto pela mudança radical ocorrida na vida das pessoas: isolamento social, com danos também à saúde emocional.

 

Nesta edição da editoria de Saúde, entrevistamos a psicóloga do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1), Daniella Meira, para responder às principais dúvidas que os próprios servidores enviaram à Divisão de Assistência à Saúde (Disao). Afinal, como lidar com todo este estresse?

 

Primeira Região em Revista: Como está sendo o relato das pessoas com o isolamento social ao conjugar trabalho remoto e vida doméstica?

 

Daniella: Em geral, houve mesmo dificuldade de adaptação. As pessoas tiveram que organizar tempo e espaço para o trabalho, criar formas de trabalhar, e isso, aliado à situação de apreensão de contaminação, aumentou a ansiedade de todos.  

Agora, os benefícios como a flexibilização do horário de trabalho – já que cada um controla sua jornada de trabalho, ajustando seus compromissos pessoais e familiares e a redução do tempo de deslocamento que gera ganho em qualidade de vida – estão mais evidentes.  

Em alguns setores houve inclusive aumento da produtividade e otimização de recursos humanos e financeiros. 

 

Primeira Região em Revista: Esse será o “novo normal”?

 

Daniella: Então, muita gente está usando a expressão “novo normal” - uma tentativa de estabelecer uma nova forma de agir, ganhando segurança e aceitando a mudança. Pois bem, ainda não sabemos como serão as coisas daqui para frente. Talvez tenhamos um “novo normal”, um novo jeito de viver, de ir à escola, de ir ao mercado, ao teatro e ao trabalho de tempos em tempos. Olhamos à frente e no horizonte vislumbramos apenas alguns sinais. Temos que, com esses sinais, estudar uma conduta e seguir lidando com um dia de cada vez.  A chave da adaptação é o desapego. O enfrentamento das nossas limitações. 

 

Primeira Região em Revista: sobre o trabalho remoto, quais são as maiores dificuldades relatadas pelos profissionais do Tribunal?

 

Daniella: A maior perda com o trabalho remoto é a da possibilidade de troca imediata e informal de experiências profissionais e da criação de vínculos de amizade. Entretanto, com o suporte da área de informática e de desenvolvimento de recursos humanos do Tribunal, conseguimos aprender a utilizar as ferramentas de comunicação remota para buscar suprir essa falta importante.

Para alguns, sair de casa, sair do ambiente familiar é estruturante. O trabalho presencial, para muitos, possibilita uma melhora na concentração, um distanciamento do ambiente familiar e do desempenho de tarefas para as quais não se sente apto ou que o fazem sentir sobrecarregado. Mas o trabalho remoto tem funcionado. Possibilitou que o Judiciário percebesse ser possível manter os serviços funcionando e garantir a prestação jurisdicional e ainda economizar! Nós estamos nos virando como podemos e essa realidade, em geral, tem dado certo, muito certo!  Mas, algumas pessoas precisam realizar suas tarefas presencialmente ou exercem melhor suas atribuições presencialmente. 

 

Primeira Região em Revista: como lidar com as dificuldades de se trabalhar em casa e querer “mostrar serviço” não estando presente fisicamente?

 

Daniella: Aqui a resposta é ser gentil consigo mesmo e com os outros!  Mostrar-se verdadeiramente interessado na pessoa com quem está se relacionando é vitalizante.  Ter a consciência de que é preciso investir na humanização das relações, ainda que remotamente, é o que fortalecerá nossa saúde mental.  Outro ponto-chave durante o período em que estamos mais isolados socialmente para nossa saúde mental é exercitar a tolerância, a paciência.   

 

As pessoas têm crenças e valores diferentes e, às vezes, sim é importante buscarmos suporte terapêutico para dar conta de fazer os ajustes necessários para se ter paz e harmonia. É criando um ambiente de paz, compreensão e harmonia que faremos o possível. Sim, entre o ideal e o possível ficamos com o possível, manteremos nossa saúde mental e assim caminharemos para o ideal.

 

Por exemplo, eu gostaria de ter instruído pelo menos cinco processos hoje - a internet não estava boa, meu filho demandou ajuda com os deveres de casa, precisei sair para ir ao mercado e gastei muito tempo higienizando as compras - fiz apenas dois processos.  Penso: “Só fiz dois! Que chato, amanhã vou ter que me virar e fazer sete”!

 

Não! Devo pensar assim: “Hoje eu fiz dois e amanhã, se tudo der certo, farei cinco”!   Se durante esse período eu levar para o dia seguinte a carga não feita do dia anterior, mais tenso eu vou ficar e menos processos eu vou conseguir fazer a cada dia.

 

Assim, é preciso indicar para a chefia nossas dificuldades, pedir ajuda aos colegas, negociar e renegociar prazos.  Planejar é importante? Sim, essencial, mas compreender que nem sempre tudo sai como planejado, e durante este período é essencial replanejar, recomeçar quando as coisas não dão certo. 

 

Primeira Região em Revista: Qual a orientação para quem busca equilibrar a saúde mental neste momento de isolamento social? Às vezes, ao sair para ir ao mercado ou à farmácia ficamos sem ar, com o coração acelerado e suando. Como saber se minha falta de ar é por conta da minha ansiedade ou se estou com sintomas relacionados à Covid-19? 

  

Daniella: A ansiedade exacerbada pode trazer sintomas físicos – dormência nas mãos, vontade de vomitar, aperto no peito, falta de ar, tontura. São respostas do organismo a situações em que nos sentimos ameaçados. Daí a dificuldade de relaxar, de se concentrar, de manter o foco, a produtividade. Então, é preciso identificar quando buscar ajuda.

Se eu perguntar:  já tive essa “falta de ar” antes quando estava ansioso? O que tinha acontecido? “Falta de ar” costuma ser um sintoma ansioso meu? Hoje, o que estava acontecendo antes de eu sentir falta de ar? Posso ter desencadeando esta “falta de ar” por estar preocupado ou com muito medo?


Se você perceber que está mesmo com ansiedade exacerbada em função do isolamento e do coronavírus, faça exercícios de respiração, diminua o acesso a notícias e foque em coisas que lhe deem prazer. Não abuse dos medicamentos. Para alterá-los, consulte seu médico. Se tiver outros sintomas como febre, tosse e dor no corpo além da falta de ar e se os sintomas estiverem intensos, também consulte seu médico. 

 

Primeira Região em Revista:   Quais as medidas que estão sendo tomadas para assegurar a assistência à saúde mental de quem trabalha no TRF1?  

  

Daniella: As consequências do isolamento prolongado já estão sendo sentidas e enfrentadas, individual e coletivamente. Estamos mais ansiosos, temerosos, tristes, questionando nossos relacionamentos? Sim. Aumentou o número de pessoas buscando apoio de psicólogos e psiquiatras, mas as transformações advindas desse sofrimento, as consequências também podem ser boas – autoconhecimento, tomada de decisões significativas, mudanças de hábitos de vida, reorganização do que é prioritário.  

 

Toda a equipe de saúde do Tribunal está à disposição dos magistrados, servidores, terceirizados e estagiários – estamos oportunizando atendimentos remotos em todas as modalidades. Se precisarem de ajuda, estamos aqui – presencialmente ou remotamente, estamos e estaremos aqui! Façam contato, por telefone, por e-mail, pelo Teams. Vocês serão prontamente acolhidos! 

 

O teletrabalho e os regimes mistos são nossa realidade hoje. Então, vamos lá! Tudo aquilo a que resistimos se torna nosso inimigo. Vamos investir na aceitação, na adaptação. Mobilizar recursos para conseguir produzir adequadamente e nos relacionar generosamente é o que garantirá que consolidemos uma nova maneira de ser feliz no trabalho, na vida!  

 

Seção de Psicologia do TRF1:

Fonte: 61 33145219

e-mail: sepsi@trf1.jus.br

bottom of page