O corpo depois da Covid-19
Sequelas físicas e psicológicas deixadas pela doença estão sendo pesquisadas e algumas demandam reabilitação
Renata Fontes | Ed. 125 outubro 2021
Inês Diniz, 61 anos, teve Covid-19 sem evoluir para um caso grave da doença, em dezembro de 2020. Dez meses depois de recuperada, ela ainda relata sintomas como falta de ar, cansaço, dificuldades de respirar, fraqueza muscular nas pernas, além de uma tosse que insiste em aparecer de vez em quando. Esses sintomas estão entre os mais relatados por pacientes que já tiveram a doença tanto de forma branda quanto de maneira mais grave, segundo artigo publicado pelo jornal acadêmico on-line Scientific Reports, do grupo Nature.
Em outubro de 2021, dez meses após Inês pegar a doença e um ano e sete meses após ser registrada a primeira morte pelo vírus no Brasil (março de 2020), muito se descobriu sobre a doença, sua evolução e sequelas, no entanto, ainda há muito a se entender a respeito.
A publicação da Nature listou mais de 50 efeitos de longo prazo relacionados à Covid-19, baseados em estudos feitos em 47 mil pacientes. A análise mostrou que até 80% das pessoas recuperadas encaram um ou mais desses efeitos mesmo depois de um bom tempo após o contato com o vírus SARS-Cov-2.
Síndrome pós-Covid
Os sintomas que aparecem ou continuam após a infecção pelo novo coronavírus ficaram conhecidos como Síndrome pós-Covid (podendo ser chamada de Covid longa ou, ainda, de sequelas agudas do pós-Covid-19), segundo especificou o blog Vida Saudável, da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira – Albert Einstein.
Os sintomas mais comuns que foram observados principalmente em pacientes que desenvolveram as formas graves da doença foram:
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Fadiga, cansaço, fraqueza e mal-estar;
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Falta de ar (ou dificuldade para respirar, respiração curta);
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Fibrose nos pulmões e/ou rins
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Perda de paladar e olfato (temporária ou duradoura);
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Dores de cabeça;
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Dores e/ou fraquezas musculares;
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Dificuldades de linguagem, raciocínio/concentração e memória;
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Distúrbios do sono (insônia);
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Depressão e ansiedade;
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Agravamento de doenças preexistentes.
Outras complicações mais graves ou muito persistentes no pós-Covid também foram identificadas. Segundo a publicação, as complicações que podem se agravar atingem principalmente os pulmões, os rins e as condições de doenças preexistentes. Já em quadros de sequelas não graves, porém persistentes, estão sintomas que prejudicam o olfato e paladar, assim como sintomas ansiosos e depressivos.
Fibrose nos pulmões
Segundo a fisioterapeuta Carla Araújo, em alguns casos mais graves, os pacientes que tiveram Covid-19 podem desenvolver fibrose pulmonar: uma cicatriz no tecido pulmonar após o dano. “A fibrose pulmonar não tem cura. É uma cicatriz que fica no pulmão e aquele lugar da cicatriz deixa de ter oxigenação sanguínea. O sangue passa a procurar outros caminhos para circular. É um local que deixa de ter trocas gasosas e sanguíneas”, explicou a fisioterapeuta.
Em relação à reabilitação pulmonar para a fibrose pós-Covid, Carla explicou que trabalhar alguns exercícios respiratórios podem melhorar a capacidade pulmonar dos pacientes que desenvolveram a doença e relatam falta de ar ou dificuldades de respirar. Assim como o uso de medicamentos receitados por um pneumologista com base no grau da lesão no pulmão.
Fibrose nos rins
Com o sistema imunológico mais fragilizado por conta da infecção causada pela Covid-19, alguns pacientes podem ter células inflamatórias que acometam, também, os rins, gerando um processo de fibrose nesse órgão.
Em outros casos mais raros, os pacientes podem desenvolver uma insuficiência renal aguda e até necessidade de realizar diálise.
Doenças preexistentes
Pacientes que já possuem doenças preexistentes podem ter os seus sintomas piorados com a Covid-19. A exemplo de doenças como diabetes, que pode evoluir de leve para uma mais difícil de se controlar e tratar.
Ansiedade e depressão
Algumas pessoas também se queixam de problemas psicológicos depois de terem Covid-19. As sequelas mentais relatadas por quem teve a doença podem ocorrer por diversos motivos e aparecem associados ao fato de estarmos vivendo uma pandemia como, por exemplo, o medo da morte, de ser infectado ou de que alguma pessoa próxima seja contaminada. Como por vezes a Covid-19 é muito agressiva, alguns pacientes chegam a precisar de acompanhamento profissional para tratamento pós-traumático.
Outros sintomas relacionados à ansiedade também são relatados, como palpitações, sudorese, taquicardia, inquietação e preocupação exacerbada. O número de pessoas que se recuperaram da doença e apresentam esses sintomas é de 15% a 20% dos infectados, o que torna a situação ainda mais preocupante.
Entre os sintomas persistentes e menos comuns no pós-Covid, também listados pela Sociedade Beneficente Israelita Brasileira estão:
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Dor no peito, palpitações, hipertensão e outros cardiovasculares;
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Tontura;
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Trombose;
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Bexiga neurogênica (dificuldade de urinar de forma espontânea);
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Queda de cabelo;
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Diarreia, dores abdominais, náusea, apetite reduzido.
E os relatados com menos frequência são:
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Impotência sexual ou perda da libido;
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Alucinações e delírios;
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Acidente Vascular Cerebral (AVC);
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Convulsões;
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Inflamação dos nervos;
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Zumbido;
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Dores de ouvido;
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Dores de garganta;
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Febre;
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Erupções cutâneas;
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Anorexia.
Reabilitação
A fisioterapeuta Carla Araújo explica que a maior parte das sequelas de Covid-19 relatadas ocorre por conta do processo inflamatório que é intenso, como agravamento nos pulmões, rins e sintomas, e dos impactos na mobilidade e circulação. Por isso, em alguns casos há a necessidade de reabilitação específica.
Além da fisioterapia pulmonar já recomendada por Carla, nos casos em que há sequelas de mobilidade, ela sugere, ainda, o acompanhamento com um fisioterapeuta especializado e, principalmente, atenção às condições de saúde do paciente que foi recuperado, assim como aos sintomas intensos e persistentes.
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