Já é hora de voltar ao normal?
Com o relaxamento das medidas restritivas em muitos estados brasileiros, fica a dúvida de continuar ou não com os cuidados altamente recomendados desde o início da pandemia de Covid-19. Médico infectologista explica sobre o possível retorno à normalidade
Ana Paula Souza e Larissa Santos | Ed. 129 Março 2022
Há pouco mais de dois anos, o mundo enfrenta um inimigo invisível que já encerrou a vida de mais de 6,2 milhões de pessoas no Planeta. O novo Coronavírus (SARS-CoV-2), que já infectou cerca de 500 milhões de pessoas, obrigou a sociedade a adotar comportamentos que não eram comuns, tais como o uso constante de máscara facial, a higienização frequente das mãos e, principalmente, o distanciamento social.
Pessoas se viram obrigadas ao afastamento de amigos e família e a se preservarem em casa para se evitar o mal coletivo que ainda era desconhecido. E para aqueles que não conseguiram evitar a infecção pelo vírus a luta era pela vida e pela recuperação com mínimas sequelas.
Com estudos e avanço da ciência chegou às pessoas a tão esperada vacina, e a esperança em dias melhores começou a se renovar. Em meados de 2020, de acordo com o Instituto Butantan, os primeiros imunizantes começaram a ficar prontos em tempo recorde, já que a média de tempo para que um imunizante seja criado é 10 anos.
Apesar de terem sido desenvolvidas em questão de meses, o Butantan garante que as vacinas são seguras e não há motivos para preocupação. “O maior equívoco sobre a vacina é achar que o trabalho para produzi-la começou no início da pandemia — na verdade, foi bem antes. A tecnologia para combater a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) já estava em andamento em 2003, quando aconteceu o primeiro surto global envolvendo um coronavírus”, relembra o Instituto.
Com a distribuição em massa das vacinas e o avanço da imunização da população os dados que revelam a quantidade de casos de infecção pelo Coronavírus foram indicando queda tanto em novos casos quanto em óbitos.
No Brasil, até 31 de março de 2022, pouco mais de 75% da população brasileira já estava totalmente vacinada (1ª e 2ª doses) e 37% já recebeu a dose de reforço, segundo dados do Ministério da Saúde.
Embora o fim da pandemia ainda não tenha sido decretado, já se percebe a vida voltando ao normal. Medidas como o retorno ao trabalho presencial e a liberação de eventos para grandes públicos adotadas em diversos estados brasileiros dão essa sensação.
Mas será que as pessoas já podem reduzir os cuidados antes altamente recomendados, como o uso da máscara, por exemplo? O médico infectologista Julival Ribeiro, do Hospital de Base de Brasília/DF, explica o panorama da pandemia no mundo, as variantes e quais grupos de pessoas ainda devem ter cuidados reforçados com a saúde na prevenção à Covid-19. Confira abaixo:
Até quando as pessoas ainda precisarão ficar atentas quanto aos cuidados com o vírus?
“Na realidade, segundo a própria Organização Mundial da Saúde (OMS), a pandemia não acabou. Tanto é que nós estamos observando, com essa nova variante da Ômicron, os casos aumentando na China, no Reino Unido, na Coreia do Sul e nos Estados Unidos.
O vírus continua circulando nas comunidades, e temos que ficar atentos ao que vai ocorrer nas próximas semanas com essas novas variantes que estão surgindo no exterior e no Brasil: tanto a Ômicron quanto a BA.1 e BA.2, que são muito mais transmissíveis que a Ômicron original.
Portanto, nós temos que ter paciência e observar as semanas seguintes para ver como vai ser o comportamento do vírus no Brasil e notar se vão ou não ocorrer novos casos como estão ocorrendo no exterior”.
Pelo quadro atual de vacinados e do número de contágio do Coronavírus no Brasil, o uso de máscara ainda é imprescindível?
“Em relação à vacinação no Brasil, estamos indo muito bem. Entretanto, vale salientar que nós temos a variante Ômicron que está circulando no mundo inteiro, e essa variante é muito mais transmissível. Além disso, ela invade tanto o sistema imunológico de quem já teve a Covid-19 como também o das pessoas que já foram vacinadas completamente. Mas vale salientar que o mais importante da vacina é prevenir casos graves e hospitalizações.
Quanto ao uso de máscara, nós já vemos que no Brasil e em outros países há a liberação do uso de máscara em locais abertos e fechados. Contudo, deve-se lembrar que existe a população mais idosa; pessoas em tratamento de câncer; com doenças autoimunes; dependentes químicos com alteração no sistema imunológico; pessoas transplantadas que fazem uso de imunossupressores, entre outras doenças, e esses grupos precisam usar máscara sobretudo em locais fechados, aglomerados e com pouca ventilação.
Essa recomendação é tão importante que a quarta dose da vacina, em princípio, é destinada exclusivamente para essas pessoas. Isso ocorre porque, com o passar do tempo, a gente vai diminuindo a proteção em relação a essas pessoas que podem adquirir a Covid-19 e ter alguma complicação”.
No que diz respeito à proteção, qual tipo de máscara é mais recomendado?
“As máscaras cirúrgicas são as mais usadas, inclusive em outros países. O ideal hoje é não usar mais máscara de pano. E, em condições especiais, principalmente para os profissionais de saúde, existem máscaras mais específicas, como a N95. Para quem não tem como deixar de se aglomerar, a exemplo de ônibus ou metrô, a máscara cirúrgica protege mais do que a de tecido”.
Quem não tomou vacina deve manter o uso constante da máscara?
“A melhor maneira de a gente se proteger é com a vacinação. Quem não tomou deve tomar a vacina, pois está em risco de pegar a doença de forma grave, e isso resultar em óbito. Então, essas pessoas que estão em risco devem continuar usando máscara, mas o mais importante é se vacinar”.
Quais são as perspectivas de futuro em relação à pandemia de Covid-19?
“A coisa mais importante sobre a Covid-19 é a vacinação, que previne casos graves, hospitalização e mortes. Além disso, estamos esperamos que, em breve, já tenhamos no Brasil, por intermédio do Ministério da Saúde, os antivirais que já estão sendo usados em alguns países do mundo e servem, sobretudo, para que a pessoa infectada com o Coronavírus possa usá-los de forma precoce para evitar casos graves”.
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