Atenção às alergias
Cerca de 30% da população brasileira sofre com algum tipo de alergia, de acordo com a OMS. Saiba como diferenciar dos sintomas da Covid-19
Áurea Batista | Ed. 122 julho 2021
Aquela coceira que começa de repente, inchaço e vermelhidão na pele, incômodo na garganta e no nariz, falta de ar... Tudo isso pode ser um sinal de que o seu corpo está tendo uma reação alérgica.
Seja por motivo alimentar, ambiental, cutâneo ou medicamentoso, a alergia consiste em uma resposta exagerada do sistema imunológico humano a uma determinada substância.
E, para ressaltar a importância da informação sobre o assunto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) instituiu o Dia Mundial da Alergia, celebrado em 8 de julho. A data também reforça a importância do tratamento de alergias, que, em alguns casos, podem até levar à morte.
Entre as alergias respiratórias, por exemplo, as mais comuns são rinite alérgica, asma, bronquite e sinusite. Elas apresentam sintomas parecidos entre si, mas requerem acompanhamento específico com um médico alergista.
A rinite afeta cerca de 30% da população brasileira, segundo dados da OMS. Os sintomas são: coceira no nariz, que pode se estender à garganta, ao céu da boca, aos olhos e aos ouvidos; espirros; entupimento nasal e coriza intensa. Ela também pode causar dor de cabeça, sonolência, irritabilidade e sensação de ouvido tapado em um ou ambos os lados.
Já a asma atinge de 10% a 25% dos brasileiros, de acordo com a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), e tende a causar tosse, falta de ar, sensação de aperto no peito e chiado na respiração. A maioria dos casos de asma tem origem alérgica, mas a doença pode ser desencadeada também por infecção viral, conforme explica a médica alergista Valéria Botan, doutora em Imunologia Médica pela Universidade de Brasília (UnB).
Falta de ar e aperto no peito também são os sintomas característicos da bronquite, que, de acordo com estudo publicado na revista The Lancet, afetou, aproximadamente, 5% da população mundial em 2010. Mas, em caso de bronquite, os sintomas mencionados podem vir acompanhados de tosse, com catarro ou não; cansaço; dores no peito; febre e dificuldade para dormir.
Já a sinusite — que incide sobre cerca de 15% a 20% da população mundial, segundo a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (Aborl-CCF) — causa dores localizadas atrás dos olhos, nos seios da face, na testa, nos ouvidos ou por todo o rosto, bem como dor de cabeça, nariz congestionado, dor de garganta e otite (infecção e inflamação no ouvido). Dependendo da gravidade do caso, também podem surgir sintomas como febre, dores no corpo, perda de olfato, dificuldade para dormir e perda de sensibilidade no rosto.
Causas e tratamentos
Os agentes causadores mais frequentes de alergias respiratórias são ácaros, poeira, fungos do mofo, pelos e penas de animais, pólen, cigarro, perfume e outras substâncias de odor forte. Por isso, uma das principais medidas de prevenção e tratamento é conservar hábitos de limpeza para manter o ambiente domiciliar saudável.
Nenhuma dessas alergias tem cura. Porém, com acompanhamento médico adequado, é possível minimizar as reações ao máximo. No caso da rinite e da asma, existem medicamentos de uso contínuo para evitar o agravamento dos casos. Outra possibilidade é a imunoterapia, realizada com vacinas que, a longo prazo, dessensibilizam o paciente ao elemento causador da alergia.
Segundo a médica alergista Valéria Botan, a imunoterapia é recomendada apenas em estágios avançados de tratamento, quando o paciente não reage aos medicamentos e nem ao controle ambiental. Essa alternativa dura cerca de três anos e consiste em sequências de injeções ou aplicações sublinguais que vão ficando cada vez menos frequentes.
Até mesmo o clima pode provocar reações alérgicas, tanto no tempo seco quanto chuvoso. “No clima mais frio, é muito mais comum que as reações se tornem mais prevalentes, porque muitas alergias respiratórias podem ser desencadeadas por infecções virais. Sabemos que, no inverno, é comum as pessoas se aglomerarem e é nessa época do ano que temos mais viroses respiratórias no ar”, ressalta Valéria.
Segundo a médica, climas com aspecto mais seco como o de Brasília, por exemplo, é benéfico no caso da rinite alérgica, pois um dos principais causadores da reação é o ácaro da poeira, que se desenvolve em ambientes úmidos. “Um dos maiores vilões da rinite alérgica é o ácaro da poeira, principalmente uma espécie chamada dermatofagoide. Eles adoram ambientes úmidos” e, por isso, o uso de umidificadores não é recomendado para quem sofre desse tipo de alergia.
Alergias respiratórias e Covid-19
Muitos sintomas da Covid-19 se assemelham aos de doenças alérgicas. Valéria destaca que o paciente infectado com o vírus da pandemia pode apresentar sintomas como nariz entupido, espirros e perda de olfato, assim como uma pessoa em crise de rinite. Os sintomas de asma também podem se assimilar aos da Covid-19, como é o caso da tosse, falta de ar, cansaço e dor no peito.
Mas, então, como diferenciar?
De acordo com a médica, os casos de crise alérgica não tendem a “derrubar” o paciente ou causar mal-estar generalizado, febre e cansaço extremo. Mesmo em crises de rinite, por exemplo, com o nariz entupido e espirros, o indivíduo consegue realizar suas atividades diárias.
Por outro lado, é comum que a Covid-19 cause uma “queda acentuada do estado geral” da pessoa, diz a médica. Porém, nem todo mundo reage ao coronavírus da mesma forma. Sendo assim, no caso de suspeita de infecção, é necessário considerar se houve contato com alguém infectado e buscar atendimento médico.
A respeito da interação entre o tratamento de alergias por meio de injeções e a vacina contra a Covid-19, Valéria aponta que as injeções da imunoterapia não deixam o paciente imunossuprimido (com baixa imunidade) e, portanto, não influenciam a vacinação contra a Covid-19.
A recomendação da ASBAI e da Organização Mundial de Alergia é que se evite aplicar a vacina e a injeção de imunoterapia em intervalos menores que sete dias, a fim de que possíveis efeitos colaterais de uma e de outra não sejam confundidos.
Hábitos de prevenção
As orientações de prevenção das alergias respiratórias, especialmente na época de polinização*, são parecidas às medidas de higiene recomendadas em decorrência da pandemia. Por exemplo, é importante evitar ambientes aglomerados e lavar as mãos com frequência, principalmente antes de levá-las ao rosto.
Além disso, assim como as pessoas mantêm a rotina de tomar banho e escovar os dentes, é necessário ter o hábito de fazer a lavagem nasal com soro fisiológico. A médica alergista lembra que a cavidade nasal está diariamente aberta ao meio externo, acumulando bactérias, vírus, poeira e outros elementos e daí a importância da higienização frequente.
De acordo com Valéria, o hábito de lavar o nariz, independentemente do clima em que se vive, reduz significativamente as chances de se contrair infecções, tanto virais quanto bacterianas. Mas, quando os sintomas se manifestam, ela recomenda consultar um alergista de confiança, pois cada caso requer tratamento específico.
*Polinização é o transporte de grãos de pólen (elementos reprodutores masculinos das flores) pelo vento que ocorre principalmente na primavera.
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